São Paulo, sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

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RUY CASTRO

Cinismo pacífico

RIO DE JANEIRO - Não difere muito de 1930, quando a "famiglia" Lucchese controlava o território. Na Nova York de 2010, quem quiser abrir um restaurante -de um humilde botequim de esquina a algo como Le Cirque- ainda terá de se submeter a certas regras não escritas e quase não ditas, mas sabidas (e toleradas) por todo mundo, inclusive pela polícia. Tais como:
O fornecimento de bebidas deve ser combinado com um distribuidor ligado à Máfia. O serviço de estacionamento também precisa ser acertado com o pessoal da Máfia. A lavagem de toalhas, guardanapos e panos de prato igualmente exige o aval de alguém da Máfia. Se o estabelecimento tiver cantor ao vivo e uma ou outra prostituição, só por intermédio da Máfia.
Por Máfia, já não significa um único Don Corleone, a quem todos devem o beija-mão, mas diversas empresas "italianas" que se revezam no controle de cada setor. Tudo legalizado e com os impostos em dia, gerido por homens de gravata, sem aqueles banhos de sangue do passado. Mas é controle do território, do mesmo jeito -não o controle físico, mas operacional. E isso inclui o fornecimento de drogas no atacado.
O ideal para o Rio seria chegar a esse estágio de cinismo pacífico. Sabendo-se que o tráfico de drogas pode diminuir, mas não vai acabar -enquanto houver oferta haverá procura-, os consumidores, fornecedores e a polícia carioca deveriam chegar a um acordo branco (sem trocadilho) e tocar seus negócios de forma a poupar o resto da cidade (a acachapante maioria) dos sobressaltos causados por uma briga que não lhe diz respeito.
Mas, para que isso ocorra, ainda precisaremos sofrer alguns corre-corres na forma de tomada e ocupação de redutos de quadrilhas, prisão dos bandidos mais chucros e, grosso modo, uma limpeza da área. Um dia, como em Nova York, os competentes se estabelecerão.


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