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TENDÊNCIAS/DEBATES
A multa do FGTS deveria ser reduzida?
NÃO
A floresta dos direitos
PAULO PEREIRA DA SILVA
Talvez por inexperiência ou equívoco -jamais por má-fé, pois tenho notícia de que é um homem sério- , o ministro do Trabalho, Jacques
Wagner, começou sua gestão admitindo a possibilidade de eliminar ou diminuir a multa de 40% sobre o saldo do
FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de
Serviço) dos trabalhadores demitidos
por causa imotivada, assim como não
melhorar -com uma mísera parcela-
nosso combalido seguro-desemprego.
Vale ressaltar que todas as tentativas
de reforma substancial na área do trabalho nos últimos anos foram barradas ou
mutiladas, principalmente pela oposição birrenta da CUT e do PT, que agora
chegaram ao poder. E como chegaram!
O Ministério do Trabalho foi praticamente tomado de assalto pela CUT, que
ocupou todos os cargos importantes.
Podemos discutir as propostas do ministro Jacques Wagner -somos contra-, mas o preferível, em vez de perder tempo polemizando sobre os galhos
dessas pequenas árvores -dois pequenos mas importantes direitos duramente conquistados-, seria dar uma olhada na frondosa floresta da legislação trabalhista e social e imaginar como ela poderia ter melhor aspecto. Com menos
árvores? Com uma boa poda? Com árvores diferentes, melhores e mais jovens
no lugar das velhas e podres? Com árvores menos estéreis e mais frutíferas?
Só os radicalmente conservadores, de
direita ou esquerda, são contra mudanças. Nós, que somos progressistas, aceitamos mudanças, sim, desde que sejam
para melhorar a vida dos cidadãos.
Mas, se o ministro preferiu discutir
primeiro a árvore do que a floresta, vamos a ela. A multa de 40% foi estabelecida para dificultar a demissão imotivada
e, se existem fraudes, como afirma o ministro -e existem, embora em pequena
escala-, o correto não é acabar com o
benefício, mas aumentar a fiscalização.
Acabar com o direito do trabalhador só
porque existe fraude seria o mesmo que
matar o boi para acabar com um carrapato pregado nele. Não faz sentido.
O ministro diz também que de pouco
vale aumentar de cinco para seis as parcelas do seguro-desemprego (que hoje
paga no máximo R$ 371 mensais).
O ministro deveria ter lido o programa de governo do PT antes de falar sobre o espinhoso assunto; ou então leu,
mas o programa só valia para ganhar
eleição. O então candidato Lula e sua
equipe nos informaram, no capítulo
"Mais e Melhores Empregos", item 11,
que a idéia não era extinguir nem diminuir, mas "ampliar a multa do FGTS para as empresas que apresentam índices
de rotatividade 20% superiores à média
do setor". E mais, "ampliar a cobertura
do seguro-desemprego para um mínimo de oito meses, podendo chegar a 12
meses nas regiões metropolitanas com
taxas de desemprego 40% superiores à
média das regiões metropolitanas".
Essa proposta tinha o apoio da CUT e
da Força Sindical, que inclusive recomendava integrar a concessão do seguro-desemprego à imprescindível requalificação profissional do trabalhador. Já
não sei se tem o apoio da CUT.
Eu e a maioria esmagadora dos sindicatos da Força apoiamos o candidato
Lula no segundo turno por causa do seu
programa de governo e da promessa
feita a mim pelo próprio candidato, pessoalmente, de que poderíamos trabalhar juntos, com diálogo, no âmbito das
políticas sociais e de emprego e renda.
Tais compromissos estão sendo, infelizmente, rompidos muito cedo.
Vamos agora à floresta: para que mexer primeiro nas árvores se, antes, precisamos avaliar e pensar no melhoramento biológico e até genético da floresta inteira? Ora, o correto é nos sentarmos todos -governo, empregados e
empregadores- nos conselhos que já
existem -os do FAT, da Previdência e
da Assistência Social, entre outros- e
cumprimos com nosso dever. Vamos
discutir as principais reformas, a tributária e fiscal, a da Previdência e trabalhista, reavaliar as idéias do passado,
muitas delas engavetadas pelo último
governo, aproveitar o que presta, discuti-las de novo no Fórum Nacional do
Trabalho e em seguida no Conselho de
Desenvolvimento Econômico e Social.
Vejam que belo roteiro. Isso feito, encaminhar tudo, como não poderia deixar de ser, ao Congresso Nacional, última e legítima instância democrática para resolvermos nossos impasses.
As reformas são complexas, os problemas com os quais nos debateremos
-privilégios a serem rompidos, dívidas
sociais a serem pagas- são espinhosos,
mas não vamos atropelar os processos
nem reinventar a roda. Enquanto não se
montam o Fórum Nacional do Trabalho e o grande Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, os conselhos setoriais já existentes devem se reunir urgentemente para recolher o imenso patrimônio de propostas desenvolvidas e, infelizmente, paradas nos ministérios, no Ipea, no Dieese, no BNDES,
na CEF e no Banco do Brasil, nas centrais sindicais e confederações e em outras agências. Ou será que o governo do
PT, como outros que criticamos juntos,
vai jogar fora o que já existe e, como se
tudo soubesse, começar tudo do zero?
Desse jeito, mirando árvores em vez
de florestas e jogando fora o patrimônio
intelectual e técnico já desenvolvido,
não vamos chegar a lugar nenhum.
Paulo Pereira da Silva, 46, é presidente da Força Sindical e do Sindicato dos Metalúrgicos de
São Paulo. Foi candidato a vice-presidente da República na chapa de Ciro Gomes (PPS).
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