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MCT e MEC: o paradigma complementar
ADALBERTO FAZZIO e LÍVIO AMARAL
Boa parte das mais exitosas ações nos dois últimos anos foi executada sem
quebra de continuidade, apesar das trocas de comando
OS PRIMEIROS anos do século
21 só confirmaram, reiterada e
dramaticamente, que o desenvolvimento sustentável de um país se
dá pela educação capaz de produzir o
mais alto valor agregado à produção
industrial e à oferta de serviços e pelo
aproveitamento de seus específicos
recursos geológicos e bioambientais.
Entre múltiplos estudos de diferentes ênfases, o realizado mais recentemente pela OCDE (Organização para
a Cooperação e o Desenvolvimento
Econômico) é explícito em indicar
que as políticas macroeconômicas
necessárias ao crescimento do Brasil
passam pela execução de políticas de
impacto nas áreas da educação e da
geração de conhecimentos para inovação tecnológica e inclusão social.
O primeiro governo do presidente
Lula teve, indubitavelmente, avanços
nessa perspectiva, advindos das ações
concebidas e executadas pelos Ministérios da Educação (MEC) e da Ciência e Tecnologia (MCT).
Boa parte das mais exitosas ações
nos dois últimos anos foram executadas sem quebra de continuidade, apesar da troca no comando dos ministérios, e demonstraram um paradigma
alternativo ao comumente mais aceito na vida política do país.
Muito se afirma que personalidades e lideranças político-partidárias,
mesmo sem conhecimento específico
consolidado e comprovada vivência
na área, podem assumir a mais alta
posição num dado ministério, desde
que tenham habilidade de cercar-se
de técnicos competentes.
Os atuais ministros do MEC e do
MCT demonstram o paradigma inverso: expressivas lideranças acadêmicas nas suas respectivas áreas, têm
também percepção e competência na
articulação política. Com isso, agregam a agilidade inerente ao conhecimento acumulado nos assuntos das
respectivas pastas e a montagem de
equipes com auxiliares qualificados.
Nessa perspectiva, o MEC ampliou
o ensino de pós-graduação para formar pesquisadores, consolidando, assim, a maior e mais capacitada comunidade científica da América Latina,
que conta hoje com mais de 80 mil
pesquisadores e atinge o patamar de
formação de 10 mil doutores por ano.
Ao longo dos dois últimos anos, recuperou-se o nível de custeio das instituições federais de ensino superior,
foram criadas novas universidades
públicas, foram estabelecidos novos
marcos regulatórios no setor privado,
reduzindo sua caótica e acelerada expansão, e foi criada a Secretaria de
Educação a Distância, que vai atender
a milhares de alunos e oferecer atualização continuada a professores.
Além do ensino superior, foi concebida, articulada e aprovada a mais importante ação para o ensino no país, o
Fundeb, que aportará recursos para o
ensino básico.
No MCT, avançou-se na integração
de cientistas, pesquisadores e empresários, num esforço para a criação de
produtos e processos inovadores que
contribuam de maneira decisiva para
aumentar a competitividade das empresas brasileiras.
Após muitos anos, o país voltou a
ter uma política industrial, tecnológica e de comércio exterior estabelecendo setores estratégicos: semicondutores, software, fármacos e medicamentos e bens de capital. Também
houve clara definição de objetivos estratégicos nacionais, tais como domínio da tecnologia do biodiesel e do potencial do etanol, programa de monitoramento da Terra e domínio industrial do enriquecimento de urânio.
Pela primeira vez, também, fez parte da agenda do governo as ações de
Ciência e Tecnologia para a inclusão e
o desenvolvimento social, por meio
de semanas nacionais de C&T, financiamento para olimpíadas de ciências
e matemática, com participação de
milhões de alunos, e implantação de
centros de capacitação tecnológica.
Muito foi feito, mas há muito mais a
ser realizado. Ensinam as experiências dos países mais desenvolvidos
que o êxito dessas políticas e ações só
ocorre se elas forem praticadas persistente e continuadamente por expressivos períodos. E esses períodos,
quase sempre, não são comensuráveis com datas e mudanças decorrentes de calendários eleitorais.
Nos próximos dias, Lula formará a
equipe do segundo mandato. Parte
expressiva da comunidade de alunos
e professores, cientistas e tecnólogos,
pesquisadores e empresários e todas
as forças sociais comprometidas com
educação, desenvolvimento científico
e inovação tecnológica espera -com
enorme expectativa- que o presidente possa considerar o MCT e o MEC
nessa perspectiva, além, muito além
das eventuais negociações advindas
dos acordos políticos-partidários.
ADALBERTO FAZZIO, 56, membro da Academia Brasileira de Ciências, é professor titular da USP e presidente da
Sociedade Brasileira de Física.
LÍVIO AMARAL, 54, é professor titular da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Física.
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