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CLÓVIS ROSSI
Hillary e Roberto Carlos
SÃO PAULO - Se predominasse a
versão hegemônica no imediato
pós-vitória de Hillary Clinton em
New Hampshire, a primária democrata viraria um show de Roberto
Carlos, na base de, "se chorei ou se
sorri/ o importante/ é que emoções
eu vivi...".
Refiro-me à catarata de interpretações que atribuíram a vitória à lágrima que a senadora derramou (ou
quase) em um boteco durante conversa com eleitores. É um insulto à
capacidade de análise das mulheres
americanas.
Se verdadeira, o subtexto, um
clássico do machismo, seria: homem vota pelas idéias/propostas
do candidato/a, mulher vota pela
lágrima/emoção. Significaria também que Hillary poderia encomendar a lágrima da posse, já que é a
única mulher candidata, homem
não chora (outro clássico do machismo) e a maioria das mulheres
não resiste a uma lágrima.
Significaria, por fim, que Hillary
passou 60 anos de sua vida como
uma estátua de gelo e só virou "humana" no undécimo minuto.
Ainda bem que já há análises menos sentimentalóides.
Na Folha, o notável acadêmico
que é Kenneth Maxwell escreve
que "foi organização política à moda antiga que levou os eleitores democratas às urnas. (...) No dia da
decisão, foram os velhos e confiáveis sindicalistas democratas, preocupados com a economia, bem como uma maioria das mulheres maduras, que foram de fato às urnas
para conceder à senadora Clinton
sua famosa vitória".
Reforça, no espanhol "El País",
seu excelente correspondente Antonio Caño (apesar de ter se deslumbrado, até a véspera, com a
"Obamamania"): "Sindicatos, grupos feministas, praticamente todas
as estruturas organizadas do Partido Democrata estão por agora com
Hillary Clinton".
Se a tese da lágrima vencesse, haveria inundações em todo o Brasil
durante a campanha municipal.
crossi@uol.com.br
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