São Paulo, sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

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ELIANE CANTANHÊDE

A vitória é de Chávez, e daí?

BRASÍLIA - A grande estrela da libertação das duas reféns das Farc foi Hugo Chávez, que dá a volta por cima da derrota no plebiscito sobre os mandatos sucessivos, neutraliza o fiasco da tentativa anterior e atrai para si os holofotes internacionais. A vitória tem reflexos externos e internos a seu favor.
O Brasil, porém, teve uma reação cautelosa. Enquanto todos badalam Chávez, as notas e declarações brasileiras enaltecem um outro personagem da história: o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe.
Por quê? Porque ninguém sabe ao certo os motivos para as Farc libertarem Clara Rojas e Consuelo González, mas uma coisa parece óbvia: seus líderes quiseram prestigiar Chávez e consolidar uma aliança com ele. Com o detalhe, instigante, de que mantiveram a ex-candidata presidencial Ingrid Betancourt. Para futuros acordos...
Estrategicamente, Uribe não negocia e mantém a política de confronto com as Farc, enquanto Chávez é o negociador, o intermediário.
Neste momento, a estratégia da negociação sai fortalecida, com a expectativa de libertação de Betancourt e dos mais de 40 reféns.
Mas não custa lembrar que Uribe foi fundamental para o sucesso: engoliu em seco e acatou o protagonismo de Chávez, abriu o espaço aéreo colombiano aos aviões venezuelanos e retirou tropas da região onde os reféns foram entregues.
Difícil saber quais serão os próximos passos dos três principais atores da história, em especial das Farc, que têm uma cabeça política "indevassável", segundo o assessor internacional de Lula, Marco Aurélio Garcia, um dos "garantee" da primeira tentativa de libertação.
Pelo sim, pelo não, diz o Itamaraty, Chávez já é muito forte, e a preocupação é evitar um desequilíbrio que sugira um Uribe fraco. A libertação de Rojas e González é só o início, e ao Brasil (como aos EUA e às Américas) interessa um governo constitucional sólido e prestigiado na conflagrada Colômbia.


elianec@uol.com.br

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