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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
Brasil urgente: investir!
EM 2003, a corretora Goldman
& Sachs criou o termo Bric
para classificar os países que
tinham a maior potencialidade de
crescimento, referindo-se, especificamente, a Brasil, Rússia, Índia e
China.
O termo pegou. No começo, o
Brasil entrava como uma grande
esperança. Hoje, as luzes se concentram apenas nos outros três
países. No último número da revista "Veja", há uma síntese do que está acontecendo. Enquanto o Brasil,
em 2006, cresceu só 2,9%, a Rússia
cresceu 6,7%, a Índia, 8,2%, e a China, 10,2%. São diferenças brutais,
que colocam o Brasil na rabeira.
A mesma reportagem esclarece
grande parte desse fiasco. Enquanto a China investiu 47,8% do PIB, a
Rússia investiu 33,5%, e a Índia,
29,3% -os investimentos do Brasil, tudo somado, mal ultrapassaram os 21%, e, mesmo assim, há
analistas que consideram não ter
chegado a isso.
A poupança interna da China está na estratosfera -47,8%-, a da
Rússia é de 33,5%, a da Índia,
29,3%, e a do Brasil só 25%. Por outro lado, nossa carga tributária é de
38%, a da Rússia, 31%, a da Índia,
17%, e a da China, 16%.
A taxa de juros reais é a mais alta
do mundo. O déficit previdenciário
é explosivo, tendo chegado a mais
de R$ 70 bilhões quando se computam os sistemas público e privado.
As despesas da União poderão chegar a 19% do PIB em 2007 (eram
menos de 10% em 1991).
Os economistas defendem que
os "fundamentos" da nossa economia são sólidos -as reservas cambiais chegam perto de US$ 100 bilhões, a dívida externa diminuiu, o
câmbio continua livre e as exportações vão bem.
Mas será que isso encerra o elenco dos "fundamentos"? O que dizer
da incapacidade do Estado para investir em infra-estrutura? O que
dizer da estratosférica taxa de juros reais, que só serve para atrair
dinheiro especulativo? O que dizer
da anêmica atração de capitais para projetos produtivos? O que dizer
da irrisória taxa de formação de capital em relação ao PIB?
Se esses aspectos entrarem no
conceito de fundamentos, penso
que o quadro mude. As vulnerabilidades da economia brasileira são
imensas e ficaram crônicas -sem
que os governantes se disponham a
atacá-las de frente.
Não podemos nos iludir. O desempenho dos últimos quatro anos
foi reflexo, em grande parte, do alto
dinamismo da economia mundial
e, mesmo assim, não conseguimos
crescer mais de 2,5% em média.
Os sinais de desequilíbrio se
agravam a cada dia quando se vê
que agricultores e industriais de
vários setores só conseguem exportar com prejuízo. Até onde vai
isso? Não podemos contar eternamente com o dinamismo externo.
Precisamos fazer a lição de casa.
antonio.ermirio@antonioermirio.com.br
ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES escreve aos
domingos nesta coluna.
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