São Paulo, domingo, 11 de fevereiro de 2007

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

Brasil urgente: investir!

EM 2003, a corretora Goldman & Sachs criou o termo Bric para classificar os países que tinham a maior potencialidade de crescimento, referindo-se, especificamente, a Brasil, Rússia, Índia e China.
O termo pegou. No começo, o Brasil entrava como uma grande esperança. Hoje, as luzes se concentram apenas nos outros três países. No último número da revista "Veja", há uma síntese do que está acontecendo. Enquanto o Brasil, em 2006, cresceu só 2,9%, a Rússia cresceu 6,7%, a Índia, 8,2%, e a China, 10,2%. São diferenças brutais, que colocam o Brasil na rabeira.
A mesma reportagem esclarece grande parte desse fiasco. Enquanto a China investiu 47,8% do PIB, a Rússia investiu 33,5%, e a Índia, 29,3% -os investimentos do Brasil, tudo somado, mal ultrapassaram os 21%, e, mesmo assim, há analistas que consideram não ter chegado a isso.
A poupança interna da China está na estratosfera -47,8%-, a da Rússia é de 33,5%, a da Índia, 29,3%, e a do Brasil só 25%. Por outro lado, nossa carga tributária é de 38%, a da Rússia, 31%, a da Índia, 17%, e a da China, 16%.
A taxa de juros reais é a mais alta do mundo. O déficit previdenciário é explosivo, tendo chegado a mais de R$ 70 bilhões quando se computam os sistemas público e privado. As despesas da União poderão chegar a 19% do PIB em 2007 (eram menos de 10% em 1991).
Os economistas defendem que os "fundamentos" da nossa economia são sólidos -as reservas cambiais chegam perto de US$ 100 bilhões, a dívida externa diminuiu, o câmbio continua livre e as exportações vão bem. Mas será que isso encerra o elenco dos "fundamentos"? O que dizer da incapacidade do Estado para investir em infra-estrutura? O que dizer da estratosférica taxa de juros reais, que só serve para atrair dinheiro especulativo? O que dizer da anêmica atração de capitais para projetos produtivos? O que dizer da irrisória taxa de formação de capital em relação ao PIB?
Se esses aspectos entrarem no conceito de fundamentos, penso que o quadro mude. As vulnerabilidades da economia brasileira são imensas e ficaram crônicas -sem que os governantes se disponham a atacá-las de frente.
Não podemos nos iludir. O desempenho dos últimos quatro anos foi reflexo, em grande parte, do alto dinamismo da economia mundial e, mesmo assim, não conseguimos crescer mais de 2,5% em média.
Os sinais de desequilíbrio se agravam a cada dia quando se vê que agricultores e industriais de vários setores só conseguem exportar com prejuízo. Até onde vai isso? Não podemos contar eternamente com o dinamismo externo. Precisamos fazer a lição de casa.
antonio.ermirio@antonioermirio.com.br


ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES escreve aos domingos nesta coluna.


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