São Paulo, Quinta-feira, 11 de Março de 1999
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O tango de FHC

CLÓVIS ROSSI

Frankfurt - Boa parte dos economistas acredita que o desfecho da crise brasileira não será nem "asiático" nem "russo", mas "mexicano".
Ou seja, aconteceria no Brasil o que aconteceu no México. Por isso, reproduzo o essencial de texto do "The Wall Street Journal", o arquiliberal jornal norte-americano, republicado segunda-feira pelo "Estadão".
A parte coincidente com o Brasil: "Em troca de empréstimos internacionais de US$ 41 bilhões, o governo do presidente Ernesto Zedillo concordou em deixar o peso flutuar e em limitar os gastos públicos ao essencialmente necessário".
A parte luminosa do pós-crise: "Os recursos (internacionais) ajudaram a estancar a fuga de capitais, a moeda mais fraca deu competitividade às exportações mexicanas e os cortes orçamentários permitiram a queda nas altas taxas de juros. O crescimento foi retomado 18 meses após a desvalorização. A inflação, por sua vez, caiu dramaticamente".
A parte vida real do pós-crise: "O índice de mexicanos vivendo em condições de miséria absoluta passou de 1 em cada 7 pessoas antes da crise para 1 em cada 5 dois anos depois. Somando a esse quadro os trabalhadores vivendo em pobreza moderada (com renda diária de US$ 3), quase dois terços da população do México hoje é considerada pobre. Antes da crise, essa classificação abrangia menos da metade dos mexicanos".
Detalhe: calcula-se que mesmo que a economia cresça 5% ao ano, ainda vai levar cinco anos (até 2004, portanto) para que o México reduza o nível de pobreza ao de 20 anos antes (84).
O título do artigo é "Lição mexicana: saúde do país custa caro à população".
Há quase 30 anos, o general Emílio Médici, então presidente do Brasil, disse algo parecido: "O país vai bem, o povo vai mal".
Se tudo der certo, temo que o máximo que FHC poderá fazer mais à frente será repetir Médici. Ou cantar o refrão do belo tango "Volver", aquele que diz: "Veinte años no es nada".


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