São Paulo, quarta-feira, 11 de abril de 2001

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FURNAS SEM SOLUÇÃO

Aumentam a cada dia os sinais de que o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, entrando na sua fase final e sob o efeito de intrigas cíclicas em torno da sucessão do ano que vem, dificilmente fará algo estruturalmente significativo durante o período que lhe resta. A procrastinação da privatização de Furnas é mais um sinal disso.
É verdade que a estratégia do governo para o setor elétrico vem assumindo um papel preponderante entre as políticas de desenvolvimento imobilizadas por essa indefinição. Mas também nesse caso seria ingenuidade considerar que as dificuldades são apenas de ordem técnica, regulatória ou estratégica. Parece que falta cacife político para o Executivo enfrentar a resistência à privatização de Furnas, sobretudo a que surge entre políticos mineiros, a começar da que é oferecida pelo governador Itamar Franco (PMDB).
Até mesmo o presidente da Câmara, Aécio Neves (PSDB-MG), aprovou o resultado da reunião do Conselho Nacional de Desestatização que deixou em aberto a questão. Ou seja, na própria base aliada - Aécio é do mesmo partido de FHC-, celebra-se a falta de solução.
Vender Furnas ao capital privado seria uma oportunidade para colocar em prática outros modelos de privatização, bastante distintos dos que o governo federal utilizou por exemplo no setor de telecomunicações, a começar pelo instituto da pulverização do controle acionário.
A indefinição, seja em virtude da falta de vontade política seja pelo receio do núcleo do governo de enfrentar a resistência mineira, de fato se agrava quando é levada em conta a situação de virtual crise energética que se vem instaurando no país.
As dez hidroelétricas, mas principalmente a chamada "usina-mãe" de Furnas, vêm sendo transformadas em símbolos do nacionalismo.
A questão dificilmente será contornada com manobras como fatiar o sistema para vendê-lo, idéia cogitada por alguns defensores da privatização. O embate é político e, nesse momento, o governo FHC parece isolado demais para enfrentar combates dessa natureza.


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