São Paulo, quarta-feira, 11 de abril de 2001

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ERRO CONSERVADOR

Parte das responsabilidades do Banco Central consiste em emitir sinais, tentando guiar as expectativas dos mercados financeiros. Mas, quando a autoridade monetária não apenas erra, mas admite o erro, a sinalização se torna ambígua.
O presidente do Banco Central, Armínio Fraga, admitiu, em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo", ter havido talvez "pouco cuidado em separar fatores conjunturais dos estruturais" quando, recentemente, a instituição que preside promoveu a elevação dos juros para 15,75% ao ano.
É fato, de um lado, que essa confissão de erro é muito mais saudável e transparente que a obstinação, a despeito de todas as evidências e reações do mercado, que o BC exibia por exemplo à época da âncora cambial, sob a gestão de Gustavo Franco.
No entanto, é também preocupante perceber que, nas ações da autoridade monetária -seja na condução da política de juros seja na supervisão do sistema financeiro-, predomina o conservadorismo.
Se há sinais, mesmo que apenas conjunturais e discutíveis, de fragilidade na economia, o BC prefere errar elevando os juros, contendo o crescimento, impondo uma transferência de renda de toda a sociedade para os rentistas que giram seus recursos na ciranda da dívida pública.
Se há indícios de fragilidade numa instituição, o BC responde de modo quase automático socorrendo o banco, novamente socializando prejuízos. Assim agiu mesmo em situações em que havia motivos para duvidar de que os riscos fossem sistêmicos ou que justificassem tamanha presteza no auxílio ao financista que, afinal, aceitou correr riscos demais.
Resta saber se o erro decorre mesmo de uma avaliação precária das condições de curto prazo ou se, a rigor, a economia brasileira continua sem estratégia mais clara de longo prazo, não restando ao BC alternativa que não seja a elevação de juros. Parece que as autoridades partem do pressuposto, conservador, de que é melhor errar subindo as taxas.


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