São Paulo, quarta-feira, 11 de abril de 2001

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CLÓVIS ROSSI

O mundo vem aí

SÃO PAULO - Sei que a tal de Alca (Área de Livre Comércio das Américas) não é exatamente um assunto popular, mas, como não sou candidato a nada, salvo a uma digna aposentadoria, acho que posso voltar a tratar dela.
Ontem o chanceler Celso Lafer lamentou que a Alca não possa ser definida em termos simples, como uma oportunidade ou como o seu reverso, uma ameaça.
"A dificuldade consiste no fato de que um processo com a complexidade da Alca apresenta simultaneamente possibilidades e riscos, tanto no processo negociador como, mais tarde, na sua implementação", diz o chanceler.
De pleno acordo. O próprio chanceler tira as consequências de sua análise, ao afirmar também a importância de que "a determinação do interesse nacional seja feita a partir da análise e do confronto de interesses concretos, o que requer informação, diálogo e participação".
De novo, de pleno acordo. Ou a sociedade se interessa pela negociação, produz ela própria os estudos necessários e, a partir deles, diz aos negociadores quais são os interesses concretos em jogo, ou toda a negociação será feita no escuro e a partir de conceitos apenas do governo.
Com um detalhe agravante: se o início da negociação se dará na gestão Fernando Henrique Cardoso, o final ocorrerá quando seu sucessor já estiver ocupando o Palácio do Planalto. Digamos que seja Luiz Inácio Lula da Silva, Ciro Gomes ou Itamar Franco (hoje por hoje, as três possibilidades maiores).
São ou dizem ser de oposição. Logo, quererão uma negociação diferente ou nenhuma negociação. Parece-me óbvio que mudar o curso depois que o jogo já estiver em andamento será bem mais difícil do que fazê-lo agora.
É mais que hora, pois, de olhar para fora. Ou o mundo passará por cima deste belo país tropical.


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