São Paulo, quarta-feira, 11 de abril de 2001

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CARLOS HEITOR CONY

O dólar e o coco

RIO DE JANEIRO - Entre as coisas inexplicáveis deste mundo, que em si mesmo é inexplicável, acredito que a relação entre o coco da Bahia e o dólar do Tesouro americano mereça figurar com destaque.
Nos tempos daquilo que os economistas chamavam de ""inflação desenfreada", era espantoso como o preço do coco vendido na orla da Lagoa ou em Ipanema previa a cotação da moeda americana, antes mesmo de se abrirem as Bolsas de Tóquio, Hong Kong, Londres e Nova York.
Aliás, tanto o seu Edson como o Gambarito (um cearense bem-humorado que me confundia com o finado Ivon Cury) não desconfiavam de que houvesse Bolsas nesses lugares remotos. Nunca entendi a precisão matemática com que eles aumentavam o preço do coco na mesma taxa com que o dólar subiria a partir das 10h de cada manhã.
Eram mais confiáveis do que os índices que apareciam nas telinhas esverdeadas dos primeiros computadores ligados aos pregões das Bolsas do Rio e de São Paulo.
Quando havia oscilações, o mercado abrindo em alta e fechando em baixa (ou vice-versa), era com assombro que eu descobria a taxa média do dólar pelo preço que eu pagava pelos cocos.
Cheguei a desconfiar que o Roberto Campos, freguês do calçadão do Arpoador e que tomava o seu coco lentamente, com canudinho, dava alguma dica de cocheira para os vendedores da região. Mas, se o Roberto acertava sempre no preço do coco, volta e meia errava em seus artigos nos jornais.
O mistério estabilizou-se com o Plano Real, mas, nos últimos tempos, as oscilações do Banco Central, que procura equilibrar a oferta e a procura, estão sendo anunciadas em primeira mão pelo preço do coco.
Acho improvável que o Armínio Fraga consulte o seu Edson ou o Gambarito, todas as manhãs, para saber como agir no complicado mercado cambial. Mas registro a minha estranheza e o meu protesto.



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