São Paulo, quarta-feira, 11 de abril de 2001

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A parceria sino-brasileira no novo século

WAN YONGXIANG


Em 1974, o comércio bilateral China-Brasil foi de US$ 17,42 milhões; no ano 2000, ele chegou a US$ 2,845 bilhões
A convite do presidente Fernando Henrique Cardoso, o presidente da República Popular da China, Jiang Zemin, realiza, hoje e amanhã, uma visita de trabalho ao Brasil. Chile, Argentina, Uruguai, Cuba e Venezuela também fazem parte do itinerário do presidente Jiang, numa visita à América Latina que é um acontecimento importante na história das nossas relações e contribuirá para aumentar a amizade entre o povo chinês e o povo latino-americano.
É a segunda visita do presidente Jiang Zemin ao Brasil, o que demonstra a grande importância dada pelo governo chinês à intensificação das nossas relações. Foi durante a sua primeira visita, em 1993, que as duas partes estabeleceram uma parceria estratégica. Creio que a visita atual dará um grande impulso na consolidação dessa parceria.
A China e o Brasil estabeleceram formalmente relações diplomáticas no dia 15 de agosto de 1974. Durante esses quase 27 anos, as relações de amizade e de cooperação vêm se desenvolvendo de uma maneira favorável. Os altos dirigentes dos dois países trocaram visitas frequentes, o que aumentou a confiança mútua. Em 1995, o presidente Fernando Henrique salientou, durante a sua visita à China, que a parceria estratégica sino-brasileira não se refletia só na política internacional, mas também em áreas como ciência, tecnologia, economia, comércio etc. A cooperação econômica e comercial bilateral não pára de crescer.
O comércio bilateral registra um crescimento estável. Em 1974, o valor total do comércio bilateral foi de apenas US$ 17,42 milhões. No ano 2000, esse valor já chegou a US$ 2,845 bilhões. A pauta de mercadorias que a China importa do Brasil varia de produtos primários a produtos de alta tecnologia -de soja e minérios a jatos regionais.
O Brasil é, hoje, o maior parceiro comercial da China na América Latina. Nossas relações comerciais envolvem os setores de alimento, vestuário, metalurgia, maquinaria, eletrônicos, telecomunicações etc.
Os investimentos mútuos diretos aumentaram substancialmente. Em Manaus, a Zhuhai Gree Electronic Appliance Inc., empresa chinesa de fabricação de ares-condicionados, será inaugurada formalmente em maio; a Huawei Technology, empresa chinesa de telecomunicações, está explorando o seu negócio no mercado brasileiro. Já foram criadas aqui mais de 50 empresas com investimentos chineses; o Brasil investiu em 193 projetos na China. O valor somado chega a US$ 49,24 milhões.
A cooperação na área hidrelétrica também conheceu progressos satisfatórios. A Siemens do Brasil ganhou a licitação da obra da usina hidrelétrica chinesa de Três Gargantas para oferecer seis turbinas geradoras. E uma aliança constituída por empresas brasileiras saiu vitoriosa na concorrência para construir a segunda fase da eclusa permanente da mesma obra.
Além disso, as empresas brasileiras também têm participado de outros projetos hidrelétricos chineses.
A cooperação sino-brasileira na área científica e tecnológica tem sido muito frutífera, destacando-se a área espacial. Em outubro de 1999 foi lançado, com sucesso, o CBERS-1, primeiro satélite de recursos terrestres de fabricação conjunta dos dois países. Os especialistas dizem que a vida útil desse satélite poderá ser duplicada. O CBERS-2 está sendo montado aqui no Brasil e vamos, conjuntamente, desenvolver o terceiro e o quarto CBERS. Desenvolveremos, ainda, satélites de meteorologia e de comunicação, como prevê o Protocolo de Cooperação em Tecnologia Espacial.
Mantemos ainda uma boa colaboração nos assuntos internacionais. Os dois países têm posições idênticas ou semelhantes nas mais relevantes questões mundiais. Mais de 90% de nossos votos na ONU coincidiram. Hoje, a conjuntura internacional vai se atenuando. A paz e o desenvolvimento tornam-se, então, os principais temas. A globalização econômica vem se acelerando e a concorrência internacional está mais intensa do que nunca. No âmbito global, o fosso entre ricos e pobres vem se ampliando, especialmente entre Norte e Sul.
A questão de como aproveitar os benefícios, evitar os prejuízos, assegurar as oportunidades de desenvolvimento e garantir a própria segurança econômica ganha cada vez mais a atenção de todos os países.
A China e o Brasil são, respectivamente, os dois maiores países em desenvolvimento nos hemisférios Leste e Oeste: têm grandes populações, são ricos em recursos naturais e têm consideráveis economias (a economia chinesa é a sétima do mundo; a brasileira, a oitava).
Ambos temos estabilidade política, rápido crescimento econômico e grande potencial de desenvolvimento; ambos estamos nos dedicando ao desenvolvimento da economia nacional e à elevação do padrão de vida dos cidadãos, encarando os mesmos desafios e problemas desta atual onda de multipolarização e globalização econômica.
Os líderes dos dois países têm uma visão de longo alcance. Vão construindo e desenvolvendo o relacionamento e a parceria estratégica, o que significa muito para as cooperações Sul-Sul, para a manutenção da paz, para o desenvolvimento mundial e para o estímulo ao estabelecimento de uma nova ordem política e econômica internacional.
Essa é a direção da história e abre uma vasta perspectiva para o futuro desenvolvimento de nossas relações.
Na entrada do novo século, os dois lados devem constantemente enriquecer essa parceria estratégica e explorar todas as potencialidades de cooperação. Há, por exemplo, uma ampla perspectiva para a nossa cooperação nas áreas aeroespacial, de informática, de biotecnologia e de novos materiais. Com a entrada na OMC e com a materialização da política chinesa de desenvolver o seu oeste, os empresários brasileiros encontrarão mais oportunidades de negócios e de investimentos na China. Incrementaremos o comércio bilateral.
A visita do presidente Jiang Zemin injetará um novo ânimo na parceria estratégica sino-brasileira. Por meio de esforços conjuntos, esse novo tipo de relacionamento ganhará, sem dúvida, fortalecimento e desenvolvimento.


Wan Yongxiang é embaixador da República Popular da China no Brasil.




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