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São Paulo, sexta-feira, 11 de abril de 2003

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CLÓVIS ROSSI

Caubóis enlouquecidos

WASHINGTON - Mais de uma TV norte-americana mostrava, anteontem à noite, imagens da estátua gigante de Saddam Hussein vindo abaixo, acopladas ou seguidas de imagens da queda do Muro de Berlim e da derrubada da suástica do topo do Reichstag, em Berlim, ao final da Segunda Guerra Mundial.
Causa choque e pavor verificar que a única superpotência do planeta equipara o passeio militar contra um tiranete de subúrbio e um Exército mulambento, de capacetes furados, e sem Força Aérea, com as epopéias que foram as vitórias na guerra "quente" de 1939/45 e na Guerra Fria que se seguiu.
A mídia norte-americana inventou uma Guarda Republicana portentosa e ferozes fedayins com a ajuda dos indefectíveis analistas.
O governo norte-americano, de seu lado, inventou um "perigo para o mundo" e armas de destruição em massa de posse do Iraque.
Dá até para entender: a cultura à John Wayne exige que o adversário do "mocinho" não seja um qualquer. No mínimo, precisa ser um Billy the Kid.
Bem feitas as contas, verifica-se que o maior perigo para o mundo é os Estados Unidos, com um governo espantosamente pequeno para um país incrivelmente poderoso, se autoconcederem o direito de matar indiscriminadamente porque se sentiram vulneráveis depois do 11 de setembro ou porque o seu presidente cisma com outro governante qualquer.
É claro que os festejos de iraquianos em cima da estátua de seu tirano caído podem anestesiar os americanos e muita gente ao redor do mundo. Mas o sempre sóbrio e realista jornal britânico "Financial Times" fazia questão de lembrar, anteontem mesmo, que havia, sim, iraquianos festejando, mas havia também iraquianos chorando seus mortos, cuidando seus feridos e lamentando suas propriedades destruídas.
Bush poderia ver faroestes mais modernos, que mostram que a realidade é mais complexa do que o mundo em branco ou preto dos tempos de John Wayne.


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