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A DÚVIDA PERSISTE
O que é preciso saber do ministro Márcio Thomaz Bastos,
que deve depor na semana que vem
no Congresso, é se tentou acobertar
um crime cometido na cúpula do
Executivo. Quando o titular da Justiça omite ter participado de um encontro com duas pessoas diretamente implicadas no delito, sua situação
se torna no mínimo desconfortável.
Até agora, as explicações de Thomaz Bastos para afirmar que não
praticou desvio de conduta no caso
da violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, se careciam
de verossimilhança, não haviam sido
abaladas. Um de seus assessores diretos esteve na casa do então ministro da Fazenda na ocasião em que
Antonio Palocci Filho e o presidente
da Caixa Econômica Federal, Jorge
Mattoso, confabulavam sobre os extratos bancários de Costa.
O auxiliar disse que apenas atendeu
a chamado do titular da Fazenda;
que não teve acesso a dados bancários da testemunha que refutara Palocci; e que na ocasião seu papel se
resumiu a receber um pedido para
que a Polícia Federal investigasse o
caseiro. Bastos agrega às explicações
de seu subordinado o fato de que,
naquela noite, estava fora de Brasília;
também diz que só soube ao final do
processo, e nunca diretamente de Palocci nem de Mattoso, sobre a participação da dupla no crime.
Em meio a tanta explicação, o ministro da Justiça se esqueceu de relatar que esteve com Palocci e Mattoso
em 23 de março, quatro dias antes da
queda do ministro da Fazenda. Após
revelada a omissão, Bastos publicou
uma nota incapaz de dirimir as dúvidas. Reconhecendo o encontro, que
teria sido feito para apresentar um
advogado criminalista ao ministro e
ao dirigente da Caixa, a nota diz que,
na reunião, se discutiram "aspectos
genéricos da questão".
Thomaz Bastos precisa fornecer
mais detalhes sobre quais teriam sido esses "aspectos genéricos" tratados no encontro. Qual foi exatamente a motivação do ministro da Justiça
que o levou a apresentar um criminalista ao colega da Fazenda? De que tipo de acusação Bastos pretendia que
se defendessem Palocci e Mattoso?
São questões cuja elucidação vai decidir se Márcio Thomaz Bastos exorbitou ou não de suas prerrogativas.
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