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No limite
Enquanto Lula promete mais alívio tributário, gastança federal e queda na arrecadação esgotam margem fiscal da União
NÃO FOI bem recebida
pelas centrais sindicais a ideia do governo
federal de diminuir
encargos trabalhistas de empresas que se comprometessem a
não demitir funcionários durante a crise. Sindicalistas, sempre
que se toca no assunto, reagem
como um sacerdote ortodoxo
diante de uma blasfêmia. Parecem preferir o desemprego.
A proposta do governo é ruim,
mas por outras razões. Colocada
em prática, evidentemente induziria o conjunto das empresas
nacionais -estivessem ou não
cogitando de demitir- a aderir
ao programa. Seria muito difícil,
para não dizer impossível, separar o joio do trigo.
O subtexto de toda essa discussão, bem como dos vazamentos
interessados de ideias preliminares sobre "pacotes de bondades" no governo federal, é que a
capacidade fiscal da União de
abrir mão de receitas encontrou
um limite. O recolhimento de
tributos federais, no primeiro bimestre do ano, foi 8,5% menor
do que o verificado em 2008, já
descontada a inflação.
A queda no IPI, o tributo sobre
produtos industriais, setor mais
atingido pela crise, foi de 26% na
mesma comparação. A incidência deste imposto sobre a venda
de automóveis -segmento particularmente afetado pela turbulência externa que, de quebra,
ainda foi alvo da principal medida de desoneração tributária do
governo- rendeu ao Tesouro volume de recursos 92% inferior ao
do amealhado no primeiro bimestre do ano passado.
Mas os lobbies por redução de
tributos continuam a fustigar o
governo Lula por todos os lados.
Além dos veículos, que tiveram a
redução no IPI estendida até junho, uma cesta de materiais de
construção recebeu o benefício.
O Planalto promete, agora, aliviar o gravame sobre um conjunto de produtos eletrodomésticos.
Também se comprometeu, vale
lembrar, a compensar os municípios pela diminuição no repasse
de verbas federais.
Quando as receitas federais diminuem pelo efeito da crise, é
preciso perguntar de onde sairá
o dinheiro para tantas benfeitorias prometidas pelo Planalto.
Desta vez não será possível recorrer à "maldade" usual de aumentar a carga tributária. Já a
segunda vítima preferencial -os
investimentos federais em infraestrutura-, esta continua
vulnerável, apesar de a propaganda oficial dizer o contrário.
Sem cortes permanentes nas
despesas de custeio da União,
um outro dano colateral de tanta
renúncia fiscal afetará a dívida
pública. A poupança para deter o
endividamento -o superávit
primário- tende a diminuir, empurrando o problema, uma das
amarras ao crescimento do país,
para a frente.
É lamentável, nesse contexto,
que o presidente Lula não tenha
tomado nem sequer a atitude
mais básica: anular os generosos
aumentos salariais prometidos
para o funcionalismo federal. A
esta altura, o Brasil já deveria ter
implementado medidas legais
para diminuir, ano após ano, o
peso dos gastos com a máquina
pública do país, em todos os seus
níveis administrativos.
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