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CARLOS HEITOR CONY
Expediente dobrado
RIO DE JANEIRO - Bom cidadão
e excelente funcionário, o presidente da República declarou que durante a próxima campanha eleitoral
dará expediente duplo e legal: de segunda a sexta-feira será presidente
da República; sábados, domingos,
feriados e dias santificados será
cabo eleitoral de sua candidata e
dos demais candidatos afins, seus
aliados.
A lei é lei, ele pode fazer isso. O
outro candidato, José Serra, teve de
deixar o cargo e cumprirá o ofício
de ex-governador e candidato durante toda a semana.
Não é só no Brasil que vigora a
reeleição. Mas não deixa de ser uma
desvantagem da democracia representativa, dando a um pretendente
ao poder uma chance que não pode
ser dada aos demais.
No caso de Lula, ele já vem acumulando as funções de presidente e
cabo eleitoral com apetite igual.
Outro dia, em crônica anterior,
lembrei a hipótese de uma renúncia
aos poucos meses de mandato que
ainda lhe resta. Em nenhum momento acreditei que ele fosse aderir
à minha ideia, o que é pena.
Renunciando à Presidência, ele
poderia dar expediente completo e
diário às suas nobres funções de cabo eleitoral de segunda a segunda
-e ninguém poderia acusá-lo de
exorbitância: como simples cidadão ele tem o direito de cabalar votos para quem quiser.
Acontece que, dedicando os fins
de semana à função de cabo eleitoral, ele carregará para onde for, para
o palanque em que subir, a majestade e o poder de sua outra função.
Para todos os efeitos, a menos que
renuncie aos meses que lhe resta
como presidente, ele será o chefe da
nação e do Estado.
É um peso suplementar que desequilibrará a igualdade de condições que seria desejável numa eleição presidencial.
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