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NOVA EQUIPE, SEM PROJETO
O presidente FHC fez uma reforma
ministerial na área econômica, nos
últimos meses, que culminou com a
posse, na semana passada, do ex-secretário-executivo do Ministério da
Fazenda, Pedro Parente, como ministro do Orçamento e Gestão. Assim, contando ainda a nomeação de
Armínio Fraga para o Banco Central,
sintonizado com o ministro Malan,
fortaleceu-se a Fazenda.
Por decisiva que seja a concentração
de poder nesse Ministério, sobretudo
num momento de ajustes monitorados pelo FMI, há uma outra vertente
de mudanças, em órgãos ligados a
estratégias de longo prazo.
Pela primeira vez desde que chegou
à Presidência da República, FHC nomeou para a Petrobrás um presidente
que se inclui na sua cota pessoal. A
mesma lógica vale para as mudanças
no Banco do Brasil, no BNDES e no
Ministério do Desenvolvimento. A
máquina federal está sob o comando
de tucanos históricos ou técnicos
próximos ao círculo de colaboradores mais íntimos do presidente.
Partidos governistas, o PFL e o
PMDB, foram preteridos. Isso talvez
explique suas fricções recentes, pois
buscam por outros meios conquistar
espaço na máquina federal.
Tal disputa é ainda mais difícil
quando pastas de densidade eleitoral, como Saúde e Educação, também
são controladas por tucanos.
Essa configuração do ministério no
segundo mandato FHC cria novos
riscos, na medida em que os grandes
partidos optem por estratégias de retaliação, sobretudo no Congresso.
Ao mesmo tempo, os políticos e os
grandes partidos, se de fato partirem
para o confronto, enfrentarão em
desvantagem o significativo poder de
fogo econômico e político do governo federal. E o atual mandato presidencial está apenas começando.
Entretanto, a lógica econômica que
presidirá as ações dessa nova equipe
continua obscura. O presidente mostrou agilidade na substituição de nomes, apostando na centralização depois de perder a colaboração de um
Luiz Carlos Mendonça de Barros e de
um André Lara Resende. Mas não
tem exibido a mesma agilidade na
definição e na comunicação à sociedade dos objetivos e das estratégias a
cargo da nova equipe econômica.
Seria frustrante se tanta mudança
servisse, ao fim e ao cabo, para novamente consumir todo um mandato
presidencial na defesa exclusiva da
estabilidade de preços.
Políticas industriais, de competitividade, de promoção tecnológica e
de recuperação do emprego, de estímulo a exportações e de atração de
investimentos continuam sem uma
formulação ampla e consistente.
Organismos, ministérios, agências
e câmaras, vários criados nos últimos anos em nome da recuperação
do planejamento de longo prazo,
continuam sem um projeto comum.
É certo que, hoje, a defesa da moeda
é uma prioridade absoluta. Mas já se
sabe também com que facilidade o
desenho e a implementação de medidas de longo prazo acabam diluídos
ou anulados em nome da prioridade
permanente e exclusiva dada ao combate à inflação. Corre-se agora o
mesmo risco, com uma nova equipe
que, além da estabilização, não foi
ainda capaz de apresentar uma estratégia para a retomada do desenvolvimento nacional.
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