São Paulo, Domingo, 11 de Abril de 1999
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NOVA EQUIPE, SEM PROJETO

O presidente FHC fez uma reforma ministerial na área econômica, nos últimos meses, que culminou com a posse, na semana passada, do ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Pedro Parente, como ministro do Orçamento e Gestão. Assim, contando ainda a nomeação de Armínio Fraga para o Banco Central, sintonizado com o ministro Malan, fortaleceu-se a Fazenda.
Por decisiva que seja a concentração de poder nesse Ministério, sobretudo num momento de ajustes monitorados pelo FMI, há uma outra vertente de mudanças, em órgãos ligados a estratégias de longo prazo.
Pela primeira vez desde que chegou à Presidência da República, FHC nomeou para a Petrobrás um presidente que se inclui na sua cota pessoal. A mesma lógica vale para as mudanças no Banco do Brasil, no BNDES e no Ministério do Desenvolvimento. A máquina federal está sob o comando de tucanos históricos ou técnicos próximos ao círculo de colaboradores mais íntimos do presidente.
Partidos governistas, o PFL e o PMDB, foram preteridos. Isso talvez explique suas fricções recentes, pois buscam por outros meios conquistar espaço na máquina federal.
Tal disputa é ainda mais difícil quando pastas de densidade eleitoral, como Saúde e Educação, também são controladas por tucanos.
Essa configuração do ministério no segundo mandato FHC cria novos riscos, na medida em que os grandes partidos optem por estratégias de retaliação, sobretudo no Congresso.
Ao mesmo tempo, os políticos e os grandes partidos, se de fato partirem para o confronto, enfrentarão em desvantagem o significativo poder de fogo econômico e político do governo federal. E o atual mandato presidencial está apenas começando.
Entretanto, a lógica econômica que presidirá as ações dessa nova equipe continua obscura. O presidente mostrou agilidade na substituição de nomes, apostando na centralização depois de perder a colaboração de um Luiz Carlos Mendonça de Barros e de um André Lara Resende. Mas não tem exibido a mesma agilidade na definição e na comunicação à sociedade dos objetivos e das estratégias a cargo da nova equipe econômica.
Seria frustrante se tanta mudança servisse, ao fim e ao cabo, para novamente consumir todo um mandato presidencial na defesa exclusiva da estabilidade de preços.
Políticas industriais, de competitividade, de promoção tecnológica e de recuperação do emprego, de estímulo a exportações e de atração de investimentos continuam sem uma formulação ampla e consistente.
Organismos, ministérios, agências e câmaras, vários criados nos últimos anos em nome da recuperação do planejamento de longo prazo, continuam sem um projeto comum.
É certo que, hoje, a defesa da moeda é uma prioridade absoluta. Mas já se sabe também com que facilidade o desenho e a implementação de medidas de longo prazo acabam diluídos ou anulados em nome da prioridade permanente e exclusiva dada ao combate à inflação. Corre-se agora o mesmo risco, com uma nova equipe que, além da estabilização, não foi ainda capaz de apresentar uma estratégia para a retomada do desenvolvimento nacional.


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