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RISCOS ALTERNATIVOS
O presidente do Banco Central, Armínio Fraga, em entrevista publicada ontem no "Valor",
sugeriu que, diante dos sinais de fraqueza da demanda, pode cortar a taxa de juros. Embora Fraga tenha ressaltado que a demanda mais fraca reduz a inflação esperada -um discurso alinhado aos cânones da política de metas de inflação-, a declaração deixou a impressão de que o
baixo dinamismo da economia ganha espaço nas preocupações da autoridade monetária.
Alguns poderão denunciar como
"eleitoralismo" a nova ênfase sugerida pelo BC. Até porque a projeção
média do mercado é de que a inflação caminha para fechar 2002 com
alta de 5,5% -exatamente a taxa
máxima admitida pelo BC. Assim,
haveria muito pouco espaço para
cortar os juros sem pôr em xeque o
cumprimento da meta.
Mas, sem entrar no mérito da motivação do BC, uma menor rigidez antiinflacionária poderia ser considerada saudável. Desde o começo do ano
o BC reduziu a taxa de juros básica
em apenas meio ponto percentual,
frustrando a expectativa de um corte
bem maior. Essa rigidez, justificada
pela zelo em cumprir a meta de inflação, contribuiu para a estagnação do
crédito e portanto para o quadro de
demanda fraca com o qual agora o
BC afirma se preocupar.
Cortar os juros agora em maio será
possivelmente mais arriscado, do
ponto de vista do controle da inflação, do que teria sido nos primeiros
meses do ano. A recente alta do dólar
tende a se traduzir, mais à frente, em
alguma pressão sobre os preços.
Além disso, nas últimas semanas
houve um aumento do risco-país
atribuído às nações emergentes.
No caso do Brasil, essa alta foi um
pouco mais expressiva. Há quem
atribua isso sobretudo ao receio de
mudanças na política econômica no
futuro governo. Decerto o temor de
uma vitória de Lula pode pesar em algumas avaliações. Mas muitos analistas do mercado associam o maior
nervosismo, em grande medida, aos
resultados frustrantes da atual política econômica, que vem mantendo a
economia pouco dinâmica e as contas externas, vulneráveis.
Como se sabe, um dos pilares da
atual política econômica é o compromisso do BC em perseguir metas de
inflação. Já nas próximas semanas
essa política estará sob tensão, entre
o risco de descumprir a meta de inflação e o risco de abortar a incipiente retomada da economia.
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