São Paulo, sábado, 11 de maio de 2002

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RISCOS ALTERNATIVOS

O presidente do Banco Central, Armínio Fraga, em entrevista publicada ontem no "Valor", sugeriu que, diante dos sinais de fraqueza da demanda, pode cortar a taxa de juros. Embora Fraga tenha ressaltado que a demanda mais fraca reduz a inflação esperada -um discurso alinhado aos cânones da política de metas de inflação-, a declaração deixou a impressão de que o baixo dinamismo da economia ganha espaço nas preocupações da autoridade monetária.
Alguns poderão denunciar como "eleitoralismo" a nova ênfase sugerida pelo BC. Até porque a projeção média do mercado é de que a inflação caminha para fechar 2002 com alta de 5,5% -exatamente a taxa máxima admitida pelo BC. Assim, haveria muito pouco espaço para cortar os juros sem pôr em xeque o cumprimento da meta.
Mas, sem entrar no mérito da motivação do BC, uma menor rigidez antiinflacionária poderia ser considerada saudável. Desde o começo do ano o BC reduziu a taxa de juros básica em apenas meio ponto percentual, frustrando a expectativa de um corte bem maior. Essa rigidez, justificada pela zelo em cumprir a meta de inflação, contribuiu para a estagnação do crédito e portanto para o quadro de demanda fraca com o qual agora o BC afirma se preocupar.
Cortar os juros agora em maio será possivelmente mais arriscado, do ponto de vista do controle da inflação, do que teria sido nos primeiros meses do ano. A recente alta do dólar tende a se traduzir, mais à frente, em alguma pressão sobre os preços. Além disso, nas últimas semanas houve um aumento do risco-país atribuído às nações emergentes.
No caso do Brasil, essa alta foi um pouco mais expressiva. Há quem atribua isso sobretudo ao receio de mudanças na política econômica no futuro governo. Decerto o temor de uma vitória de Lula pode pesar em algumas avaliações. Mas muitos analistas do mercado associam o maior nervosismo, em grande medida, aos resultados frustrantes da atual política econômica, que vem mantendo a economia pouco dinâmica e as contas externas, vulneráveis.
Como se sabe, um dos pilares da atual política econômica é o compromisso do BC em perseguir metas de inflação. Já nas próximas semanas essa política estará sob tensão, entre o risco de descumprir a meta de inflação e o risco de abortar a incipiente retomada da economia.



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