São Paulo, sábado, 11 de maio de 2002

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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

Educação no campo

Nesta semana, no dia 8, realizou-se em Belo Horizonte, na Assembléia Legislativa do Estado, memorável audiência pública, organizada pela Comissão de Educação e com a presença de cerca de 300 representantes das Escolas Família Agrícola de vários Estados do Brasil.
Coube aos deputados Adelmo Carneiro Leão e Maria José Haueisen apresentar o projeto de lei que institui o programa estadual de apoio financeiro à Escola Família Agrícola (EFA) de Minas Gerais. O intuito do projeto é o de repassar aos centros educativos comunitários que preencherem certos requisitos recursos financeiros para o custeio de despesas de administração e de docência. As escolas não pretendem recursos que as sustentem totalmente, mas, por meio de convênios, querem auxílio às associações locais, em especial na capacitação e na remuneração de docentes.
O projeto responde a anos de expectativa dessas escolas beneméritas, que, com coragem e idealismo e enfrentando inúmeras dificuldades, têm, no entanto, oferecido educação adequada a adolescentes e a jovens do campo.
Lembramos os nomes pioneiros do padre Umberto Pietrogrande, no Espírito Santo, e do padre Aldo Lucchetta, na Bahia.
As EFAs surgiram na França, em 1935, e atuam em dezenas de países com excelente resultado pedagógico. Iniciadas em 1989, existem no Brasil 115 escolas, distribuídas em 17 Estados da federação, que envolvem mais de 5.000 comunidades rurais. Organizam-se por meio da Unefab, a União Nacional das Escolas Família Agrícola do Brasil, com sede no Espírito Santo.
O que há de genial na iniciativa dessas escolas?
Trata-se de resgatar e de promover os jovens do meio rural integrando no processo educativo as famílias de agricultores e assegurando aos alunos o ensino adequados à sua permanência no meio que lhes é próprio. Adota-se a pedagogia da alternância, pela qual os alunos frequentam a escola durante 15 dias em regime de internato e voltam a seguir, por igual período, às suas famílias, tendo a oportunidade de aplicar os ensinamentos recebidos. O método da alternância permite ao aluno, que geralmente mora longe da escola, reduzir a duas vezes por mês o desgaste com a distância e o transporte.
Corrige-se, assim, a situação penosa em curso em várias áreas rurais, em que alunos e alunas são levados em ônibus para "escolas-núcleo", com cansaço, risco nas estradas de terra, precariedade dos meios de transporte e afastamento do ambiente familiar.
Entre os principais frutos das EFAs notamos o atendimento personalizado aos alunos, que une família e escola, a formação tipicamente rural e o enraizamento no campo com tecnologia moderna e melhores opções de trabalho. O projeto de lei de apoio financeiro às EFAs, entidades sem fins lucrativos, reconhece a autonomia pedagógica das organizações da sociedade e garante, pela parceria com o poder público, a qualidade de seu funcionamento a serviço do meio rural.
A sessão solene, presidida pelo deputado Paulo Piau, contou com a palavra competente e animadora do secretário de Educação, professor Murílio Hingel, bem como com o depoimento de dirigentes da Unefab, da Emater e da Associação Mineira das Escolas Família Agrícola (Amefab), sublinhando a importância do evento, que há de assegurar em Minas Gerais perspectivas promissoras para a educação no campo, servindo, sem dúvida, de incentivo para outras regiões do Brasil.
Peço a Deus que recompense os promotores dessa luminosa iniciativa.


D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.



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