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CARLOS HEITOR CONY
Sayonara
RIO DE JANEIRO - Não me queiram mal os paulistas, nem mesmo os taxistas da capital de São Paulo. Não
sei se são uma lástima, ou se a lástima sou eu próprio, passageiro compulsório e frequente de seus serviços e
de suas competências.
Acredito que eu já seja razoavelmente conhecido entre os motoristas
que ficam ali em Congonhas, na boca
de espera de um freguês que traga a
salvação da lavoura de todos os dias,
pedindo uma corrida para o mais
longe possível, com direito ao retorno
pago pelo passageiro.
Não é o meu caso. Vou geralmente
para o centro, que rende mixaria.
Mas faço exigências como um califa,
um potentado oriental, um tenor de
ópera: exijo o ar-refrigerado -não
sei por que, a frota que serve a capital
paulista insiste em considerar o ar-refrigerado coisa de veado ou maléfica, são raros os táxis que dispõem
desse acessório, que, aos poucos, está
deixando de ser acessório.
São gentis os motoristas paulistas,
mas todos parecem ter chegado à capital na véspera, pois é raro aquele
que sabe onde fica um hotel, um restaurante e, até mesmo, o aeroporto.
Semana passada, estava batendo um
papo com o ex-ministro Almino
Afonso em seu escritório, peguei um
táxi e pedi que me levasse a Congonhas. O cara não sabia onde era, foi
parando em cada esquina e perguntando como chegaria lá.
Na véspera, indo à Bienal do Livro,
um japonês muito risonho e educado
pegou-me no hotel. Riu muito quando pedi que me levasse à Bienal, na
Imigrantes. Achei que ele havia entendido. Meia hora depois, estava parado num engarrafamento monstro,
no Ipiranga. Rindo, ele me perguntou
aonde mesmo eu queria ir. Repeti:
Bienal do Livro, na Imigrantes.
Ele acenou com a cabeça, amável e
risonho, sim, sim, Bienal... Imigrantes... e me levou para outro engarrafamento, na Penha. Cheguei atrasadíssimo ao café literário com Lygia
Fagundes Telles. E, pela primeira vez
na vida, comecei uma conversa dizendo ""sayonara".
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