São Paulo, sábado, 11 de maio de 2002

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CARLOS HEITOR CONY

Sayonara

RIO DE JANEIRO - Não me queiram mal os paulistas, nem mesmo os taxistas da capital de São Paulo. Não sei se são uma lástima, ou se a lástima sou eu próprio, passageiro compulsório e frequente de seus serviços e de suas competências.
Acredito que eu já seja razoavelmente conhecido entre os motoristas que ficam ali em Congonhas, na boca de espera de um freguês que traga a salvação da lavoura de todos os dias, pedindo uma corrida para o mais longe possível, com direito ao retorno pago pelo passageiro.
Não é o meu caso. Vou geralmente para o centro, que rende mixaria. Mas faço exigências como um califa, um potentado oriental, um tenor de ópera: exijo o ar-refrigerado -não sei por que, a frota que serve a capital paulista insiste em considerar o ar-refrigerado coisa de veado ou maléfica, são raros os táxis que dispõem desse acessório, que, aos poucos, está deixando de ser acessório.
São gentis os motoristas paulistas, mas todos parecem ter chegado à capital na véspera, pois é raro aquele que sabe onde fica um hotel, um restaurante e, até mesmo, o aeroporto. Semana passada, estava batendo um papo com o ex-ministro Almino Afonso em seu escritório, peguei um táxi e pedi que me levasse a Congonhas. O cara não sabia onde era, foi parando em cada esquina e perguntando como chegaria lá.
Na véspera, indo à Bienal do Livro, um japonês muito risonho e educado pegou-me no hotel. Riu muito quando pedi que me levasse à Bienal, na Imigrantes. Achei que ele havia entendido. Meia hora depois, estava parado num engarrafamento monstro, no Ipiranga. Rindo, ele me perguntou aonde mesmo eu queria ir. Repeti: Bienal do Livro, na Imigrantes.
Ele acenou com a cabeça, amável e risonho, sim, sim, Bienal... Imigrantes... e me levou para outro engarrafamento, na Penha. Cheguei atrasadíssimo ao café literário com Lygia Fagundes Telles. E, pela primeira vez na vida, comecei uma conversa dizendo ""sayonara".



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