|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TENDÊNCIAS/DEBATES
Deve haver uma CPI para apurar denúncia de irregularidade no leilão da Vale?
NÃO
CPI não é palanque eleitoral
GERALDO MELO
Não posso apoiar a idéia de uma
CPI para investigar o que se está
chamando de "caso Vale", embora o assunto deva ser investigado e esclarecido
cabalmente.
O que se discute aqui, portanto, não é
a inconveniência da investigação, pois
com ela aparentemente todos estão de
acordo. A questão é saber se a CPI é o
instrumento adequado para ser utilizado agora, ou se devem ser usados os
meios institucionais de que a sociedade
dispõe, independentemente da investigação pelo Congresso.
Em primeiro lugar, que fique claro
que nem o governo federal, nem o
PSDB, nem o senador José Serra têm algo a temer ou a esconder, neste caso ou
em qualquer outro. Nenhum deles poderia ser acusado de haver tentado de
algum modo impedir o esclarecimento
de quaisquer denúncias. Foi por iniciativa do presidente Fernando Henrique
Cardoso que se criou a Corregedoria
Geral da União, atendendo à demanda
da sociedade de transparência na administração pública e de exigência de integridade em relação aos atos e às pessoas
que dela fazem parte.
Quanto ao partido, basta lembrar a
atitude tomada quanto às evidências de
irregularidades no governo do Estado
do Espírito Santo, envolvendo um governador então filiado ao PSDB, ou no
caso da violação do painel do Senado,
para que se constate que não há meio-termo em questões de princípio.
Em segundo lugar, nunca o Ministério
Público, a Polícia Federal e o Poder Judiciário tiveram tão amplas e irrestritas
condições de segurança e liberdade no
exercício das suas atribuições.
Em terceiro lugar, não se pode deixar
de levar em conta a circunstância de que
as denúncias alegadas como justificativa para a CPI surgiram em uma fase
crucial da construção do processo eleitoral.
Foram muito evidentes os esforços
desenvolvidos pelos adversários do
PSDB para aproximar aquelas denúncias do pré-candidato do partido à Presidência da República, cujo nome, entretanto, não foi nem ao menos citado,
em momento nenhum, em nenhum
dos episódios supostamente ocorridos e
em nenhum comentário ou declaração
das pessoas direta ou indiretamente envolvidas com o assunto.
Se assim foi até agora, o que aconteceria nos discursos inflamados de uma
CPI diante da imprensa?
Está muito evidente que o que se pretende é armar um palanque eleitoral.
Certamente, desde que se dispusesse
desse palanque, o grande objetivo, que é
a apuração dos fatos, se tornaria secundário.
Todos sabem que, se viesse a ser instalada e a realizar as suas investigações, a
CPI não produziria resultados diversos
daqueles que seriam obtidos pela via judicial. Assim, o que pretende a oposição
-o PT à frente- é produzir factóides,
e não apurar fatos.
A proposta de constituição da CPI é,
portanto, eleitoreira e demagógica.
O objetivo real dessa iniciativa é manchar, a partir de denúncias envolvendo
terceiros, a imagem de um candidato
reconhecidamente capaz e íntegro.
Alguém que, depois de 40 anos de vida pública, tendo exercido cargos da
mais alta responsabilidade, ao se lançar
candidato à Presidência da República,
enfrenta, como única acusação, a pecha
de ser antipático está acima das futricas
e calúnias a que se quer reduzir a campanha presidencial que se aproxima.
O nosso país está vivendo um momento fronteiriço entre a política à moda antiga e a política da ética e seriedade; entre a demagogia e a responsabilidade; entre o carreirismo, a exploração
da ingenuidade popular e da miséria
das multidões, a corrupção, a impunidade, a enganação e uma postura límpida e leal diante da sociedade. O PSDB
tem compromisso com a nova fase que
vem sendo construída com determinação, desprendimento e coragem.
A nova postura que a sociedade exige
de todos, não apenas dos homens públicos, se, por um lado, impõe o fim da impunidade, por outro também exige que
os homens de bem possam dormir em
paz, com a sua honra a salvo de agressões irresponsáveis.
De outro modo, não vale a pena ser
honesto.
Geraldo Melo, senador pelo PSDB do Rio Grande do Norte, é líder do partido no Senado.
Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: Sim - João Paulo Cunha: Pela transparência Índice
|