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TENDÊNCIAS/DEBATES
Deve haver uma CPI para apurar denúncia de irregularidade no leilão da Vale?
SIM
Pela transparência
JOÃO PAULO CUNHA
A privatização de estatais brasileiras, especialmente da Companhia Vale do Rio Doce e do sistema Telebrás, ganhou notoriedade por ser um
dos maiores negócios do mundo, seja
pelo porte das empresas, seja pelo valor
econômico. Mas gerou questionamentos de toda a ordem e produziu um personagem sob o qual pairam graves suspeitas.
Trata-se do economista Ricardo Sérgio de Oliveira, ex-diretor da área internacional do Banco do Brasil.
A revista "Veja" da última semana revelou, com base em depoimentos do ex-ministro das Comunicações e ex-presidente do BNDES Luiz Carlos Mendonça
de Barros e do ministro da Educação,
Paulo Renato Souza, que Ricardo Sérgio
teria pedido ao empresário Benjamin
Steinbruch uma comissão no valor de
R$ 15 milhões para capitanear o apoio
dos fundos de pensão ao consórcio vencedor da privatização da Vale do Rio
Doce. Steinbruch liderou o consórcio
vencedor do leilão de venda da Vale.
Não é a primeira vez que Ricardo Sérgio teve seu nome envolvido em assuntos nebulosos. Ele vem sendo investigado pelo Ministério Público e pela Polícia
Federal por sua atuação na privatização
do sistema Telebrás. De acordo com o
ex-senador Antonio Carlos Magalhães,
ele teria cobrado propina de R$ 90 milhões para intermediar o apoio dos fundos de pensão à montagem do consórcio Telemar.
Em sua edição de ontem, a Folha lançou mais uma dúvida sobre o comportamento de Ricardo Sérgio. Desta vez,
ele é acusado de ter usado sua influência
no Banco do Brasil, em 1995, para favorecer empresas de um dos doadores da
campanha do senador José Serra, em
1994. De acordo com a reportagem da
Folha, o beneficiário dos favores teria
sido o empresário espanhol, naturalizado brasileiro, Gregório Marin Preciado.
A dívida de duas empresas de Marin, a
Gremafer e a Aceto, foi reduzida em R$
73,7 milhões.
A esses fatos acrescentam-se outros,
acerca de supostas irregularidades, relacionados ao processo de privatização,
regularmente estampados na imprensa.
Ao que consta, nenhuma providência
clara tem sido tomada por parte do governo para esclarecer a verdade dos fatos. Aliás, fosse de outra forma, Ricardo
Sérgio não teria continuado na diretoria
do Banco do Brasil, mesmo após o presidente da República ter sido informado
sobre as estripulias que ele andava praticando naquele posto. É falsa, portanto,
a idéia de que o governo FHC tem combatido a corrupção. Na verdade, o governo tem se especializado em engavetar denúncias.
Mas, neste caso específico, o comportamento do PSDB, do governo, da candidatura Serra e do próprio Legislativo
deveria ser diferente, ou seja, permitir a
investigação. Politicamente, Ricardo
Sérgio é um cadáver insepulto e, não
sendo investigado agora, atormentará o
Palácio do Planalto e o comitê de José
Serra até as eleições de outubro.
E, mais uma vez, dará argumentos
àqueles que, como Paul O'Neill, secretário do Tesouro dos Estados Unidos,
consideram que a corrupção no Brasil
deixou de ser apenas uma questão moral e adquiriu dimensão macroeconômica, contribuindo para a manutenção
das taxas de juros estratosféricas praticadas no país.
O PT gostaria de atravessar o período
eleitoral com tranquilidade. O que nos
interessa é fazer a disputa eleitoral e ganhar as eleições, disputando idéias por
um novo país. Mas o dever de investigar
é imperativo.
CPI não é panacéia para todos os males do Brasil. Ela é um instrumento de
que o Parlamento lança mão, circunstancialmente, para investigar eventuais
ilicitudes envolvendo autoridades e
funcionários públicos.
Insisto: o Congresso Nacional não pode fazer vistas grossas diante desses escândalos. Por isso, os partidos de oposição na Câmara dos Deputados -PT,
PL, PDT, PSB e PC do B- apresentaram requerimento propondo a criação
de uma Comissão Parlamentar de Inquérito. Nossa proposta é uma CPI mista de curta duração -30 dias, prorrogáveis por mais 30 dias, para não contaminar o processo eleitoral-, circunscrita
a apurar os fatos acima relatados.
Quem não deve, não teme. A transparência é o dever de toda a autoridade
pública.
João Paulo Cunha, 43, deputado federal pelo
PT de São Paulo, é líder da bancada do partido
na Câmara dos Deputados.
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