São Paulo, quarta-feira, 11 de maio de 2005

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ARTICULAÇÃO DIFÍCIL

O ministro Luiz Gushiken, da Secretaria de Comunicação, afirmou que o PT irá requisitar o comando da articulação política do governo. Partindo de um dos mais próximos colaboradores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a declaração pode ser interpretada como uma sentença condenatória ao ministro Aldo Rebelo, um alvo há tempos visado pelo partido governista.
Não se sabe até que ponto as palavras de Gushiken traduzem o humor presidencial, mas, por si, a troca de Rebelo não removerá os obstáculos enfrentados pelo Executivo. Os percalços da articulação política se inscrevem num quadro complexo, cujas dificuldades vão além da maior ou menor capacidade do ministro.
O PT e seus aliados de primeira hora não contam com mais do que 20% dos votos do Congresso, mas ocupam uma parcela bem mais ampla dos postos com poder decisório do governo. Essa assimetria, sustentável nos primeiros anos da administração, quando o peso das urnas ainda confere forte capacidade política ao presidente, tende, com o passar do tempo e com o desenrolar do calendário eleitoral, a gerar inquietações entre os aliados que não se consideram atendidos e já têm suas atenções voltadas para o próximo pleito.
O caminho "clássico" para resolver essa equação é aprofundar o loteamento da máquina pública. O governo já deu sinais de que o fará, mas desde que a nova rodada de distribuição de cargos sele alianças para 2006 -e não apoios transitórios que se dissolvam ao final de um ano.
O principal problema, como se sabe, reside no PMDB. A ala governista da legenda não tem poder sobre os destinos do partido, enquanto os setores não-governistas, embora pudessem aceitar uma composição, não pretendem assumir compromissos com a reeleição de Lula. É nesse terreno minado que o Planalto, em meio a outras pressões -como as do PP de Severino Cavalcanti- e disputas intestinas, procura reorganizar sua base de apoio. É possível que uma mudança na articulação política possa revigorar os entendimentos, mas o cenário parece apontar, com ou sem Aldo Rebelo, para um período mais alongado de paralisia e desgaste do governo.


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