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ARTICULAÇÃO DIFÍCIL
O ministro Luiz Gushiken, da
Secretaria de Comunicação,
afirmou que o PT irá requisitar o comando da articulação política do governo. Partindo de um dos mais próximos colaboradores do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, a declaração pode ser interpretada como uma
sentença condenatória ao ministro
Aldo Rebelo, um alvo há tempos visado pelo partido governista.
Não se sabe até que ponto as palavras de Gushiken traduzem o humor
presidencial, mas, por si, a troca de
Rebelo não removerá os obstáculos
enfrentados pelo Executivo. Os percalços da articulação política se inscrevem num quadro complexo, cujas
dificuldades vão além da maior ou
menor capacidade do ministro.
O PT e seus aliados de primeira hora não contam com mais do que 20%
dos votos do Congresso, mas ocupam uma parcela bem mais ampla
dos postos com poder decisório do
governo. Essa assimetria, sustentável nos primeiros anos da administração, quando o peso das urnas ainda confere forte capacidade política
ao presidente, tende, com o passar
do tempo e com o desenrolar do calendário eleitoral, a gerar inquietações entre os aliados que não se consideram atendidos e já têm suas atenções voltadas para o próximo pleito.
O caminho "clássico" para resolver
essa equação é aprofundar o loteamento da máquina pública. O governo já deu sinais de que o fará, mas
desde que a nova rodada de distribuição de cargos sele alianças para 2006
-e não apoios transitórios que se
dissolvam ao final de um ano.
O principal problema, como se sabe, reside no PMDB. A ala governista
da legenda não tem poder sobre os
destinos do partido, enquanto os setores não-governistas, embora pudessem aceitar uma composição,
não pretendem assumir compromissos com a reeleição de Lula. É nesse
terreno minado que o Planalto, em
meio a outras pressões -como as
do PP de Severino Cavalcanti- e disputas intestinas, procura reorganizar
sua base de apoio. É possível que
uma mudança na articulação política
possa revigorar os entendimentos,
mas o cenário parece apontar, com
ou sem Aldo Rebelo, para um período mais alongado de paralisia e desgaste do governo.
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