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ANTONIO DELFIM NETTO
Taxa de juro neutra
Na última reunião do Copom
(Conselho de Política Monetária
do Banco Central), seus membros julgaram necessário elevar pela oitava
vez consecutiva a taxa básica de juros
(Selic) em 25 pontos (um quarto de
1%), fixando-a em 19,5% ao ano. O
mercado mantém uma expectativa de
taxa de inflação para os próximos 12
meses da ordem de 5,6%, o que significa que a taxa básica de juros reais no
Brasil é da ordem de 13,2%, sem dúvida a maior dos países civilizados em
matéria monetária.
Ninguém explica por que, depois de
oito meses de elevação do juro real, a
inflação medida pelo IPCA dá poucos
sinais de que esteja declinando. No último trimestre, o IPCA acumulado foi
da ordem de 1,79% (cerca de 0,59% ao
mês). Pois bem: a taxa média de inflação mensal medida pelo IPCA nos últimos 75 meses é exatamente 0,58% ao
mês. Desde a mudança da política
cambial, em janeiro de 1999, a taxa
mensal do IPCA se comporta como
uma variável estocástica estacionária
com média de 0,58% e variância declinante. Não se nota o efeito da política
monetária, a não ser nas crises graves
(desvalorização de 1999 e sucessão
presidencial 2002/03), quando juros
agressivos, ajudados por ampliação
do aperto fiscal (aumento do superávit primário), reconduziram a taxa à
sua média com relativa rapidez. Sem o
apelo ao "contrafactual" (se o Banco
Central não existisse, a taxa de inflação seria crescente), nada sugere a eficácia da política monetária, fora os
momentos de crise.
O efeito devastador do diferencial,
entre a taxa de juro real de 13,2% ao
mês e as taxas de juros reais prevalecentes no mercado financeiro mundial, sobre a taxa de câmbio é cinicamente ignorado com a desculpa de
que "até aqui as coisas vão bem": as
exportações continuam crescendo...
Pela quarta vez em 15 anos, estamos
insistindo em ignorar os efeitos deletérios da sobrevalorização cambial sobre o futuro das exportações. Não deveríamos esquecer que, pelos padrões
internacionais e pela dimensão do
nosso PIB quando calculado pela paridade do poder de compra, o Brasil só
será um país "normal, vigoroso e à
prova de crise" quando exportar em
torno de US$ 200 bilhões (a dólares de
2004)!
Isso sem insistir na desarticulação
do sistema industrial brasileiro, produzido por uma taxa de juro real de
13,2% paga pelo papel mais líquido e
mais seguro do mercado. A taxa de juro natural ("neutra") é aquela que é
consistente com uma inflação estável
quando o PIB se encontra próximo ao
seu "potencial". Ela é, obviamente, difícil de calcular porque varia no tempo, de acordo com a produtividade, as
condições estruturais da economia, as
preferências dos agentes entre o presente e o futuro, a dimensão do déficit
público etc.
Estudos realizados no Banco Central
Europeu mostram que ela é, na Eurolândia, qualquer coisa entre 2% e 3%.
A OCDE sugere que nos Estados Unidos ela varia de 2% a 5%, mas estudos
americanos sustentam que a taxa tem
diminuído e se encontra hoje entre
2,75% e 3% ao ano, cinco vezes menor
do que a nossa!
Antonio Delfim Netto escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
@ - dep.delfimnetto@camara.gov.br
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