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CARLOS HEITOR CONY
A crise na mídia
RIO DE JANEIRO - É comum a lamentação de que os jovens não gostam de ler revistas e jornais a não ser
aqueles diretamente ligados ao seu
universo específico. Além disso, a população madura vai também, aos
poucos, questionando a oportunidade ou a necessidade de se informar
na leitura diária e constante de um
meio tradicional que hoje encontra
novos e surpreendentes recursos de
comunicação.
Há causas conhecidas do afastamento dos leitores. O jornal ainda é a
referência principal e a mais categorizada da informação -as outras
mídias estão baseadas nela. Já foi dito que o jornalismo dos demais veículos de comunicação é pautado pela
mídia impressa, a mais responsável,
a que mais investe na busca de informações. Tirante a internet, que atua
num universo novo, as outras mídias
vão atrás dela, desenvolvendo-a, ampliando-a, ilustrando-a.
Qualquer pesquisa sobre a questão
revela que os leitores se queixam, sobretudo dos jornais, pelo espaço e pelo entusiasmo que dão à política e,
sobretudo, aos políticos. Páginas e
páginas sobre especulações, intrigas
de bastidores, revelações de fontes
abstratas -um "mix" de fofocas que
abastece grande parte do noticiário e
a maioria das colunas especializadas.
Um fato: determinado líder convida outros líderes para um jantar comemorativo das bodas de prata ou
de ouro de seu casamento. Outro determinado líder deixa de comparecer
porque teve de ir ao velório do sogro
de uma de suas filhas. Pronto. Está
armado o circo de uma grande convulsão nacional.
Durante uma semana, ou mais, a
fauna dos editores, redatores, repórteres e colunistas políticos entra em
ebulição, extraindo do fato possível a
possibilidade de uma crise, de um
tsunami no Congresso, no núcleo do
poder, nas relações externas, na taxa
de juros e de câmbio e, nos tempos
atuais, nos rumos da próxima sucessão presidencial.
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