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CLÓVIS ROSSI
Luzes, câmera, ações
PARIS - O responsável pelas finanças do ABN-Amro, Hugh Scott-Barrett, renunciou ontem ao cargo, no
que parece ser a principal vítima,
até agora, da rebelião dos acionistas
do banco contra a anunciada venda
para o Barclays.
Os acionistas preferem que o
ABN-Amro seja vendido para o
consórcio improvisado formado
pelo Royal Bank of Scotland, Santander (Espanha) e Fortis (Países
Baixos). Preferência que não decorre de uma eventual simpatia pelo
consórcio, mas do maior valor oferecido por ação.
O que nós, tapuias, temos a ver
com essa rebelião capitalista?
Primeiro, expõe o primitivismo
do capitalismo à brasileira. Rebeliões de acionistas são fenômeno
virtualmente desconhecido ao sul
do Equador, pela simples e boa razão de que há poucos acionistas,
porque há relativamente poucas
empresas de capital aberto.
Uma das graças do capitalismo
estaria justamente em chamar o
maior número possível de mortais
comuns a participar do banquete,
mesmo que seja comendo pelas
bordas (com um pequeno número
de ações).
Quando o jogo é apenas entre os
gatos gordos, provoca o mal-estar
difuso palpável hoje no mundo todo, nem sempre com razão.
Em tese, a Bolsa de Valores é a
melhor maneira de uma empresa se
financiar sem precisar pagar os juros que, no caso do Brasil, são astronômicos. Mas tem a contrapartida
de pulverizar a propriedade, em vez
de concentrá-la em poucas mãos,
sempre em tese (na prática, há mil e
um trambiques, mas essa é outra
história).
O fato é que eu sou "sócio" do
Real (o braço brasileiro do ABN) há
uns 30 anos, como correntista, não
como acionista. Queria ter o direito
de participar da escolha de meu novo "sócio". Mas não sou nem cheirado nem sei como me juntar à rebelião de meus "parceiros" na Holanda. Sinto-me um bugre.
crossi@uol.com.br
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