São Paulo, sexta-feira, 11 de maio de 2007

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CLÓVIS ROSSI

Luzes, câmera, ações

PARIS - O responsável pelas finanças do ABN-Amro, Hugh Scott-Barrett, renunciou ontem ao cargo, no que parece ser a principal vítima, até agora, da rebelião dos acionistas do banco contra a anunciada venda para o Barclays.
Os acionistas preferem que o ABN-Amro seja vendido para o consórcio improvisado formado pelo Royal Bank of Scotland, Santander (Espanha) e Fortis (Países Baixos). Preferência que não decorre de uma eventual simpatia pelo consórcio, mas do maior valor oferecido por ação. O que nós, tapuias, temos a ver com essa rebelião capitalista?
Primeiro, expõe o primitivismo do capitalismo à brasileira. Rebeliões de acionistas são fenômeno virtualmente desconhecido ao sul do Equador, pela simples e boa razão de que há poucos acionistas, porque há relativamente poucas empresas de capital aberto.
Uma das graças do capitalismo estaria justamente em chamar o maior número possível de mortais comuns a participar do banquete, mesmo que seja comendo pelas bordas (com um pequeno número de ações).
Quando o jogo é apenas entre os gatos gordos, provoca o mal-estar difuso palpável hoje no mundo todo, nem sempre com razão.
Em tese, a Bolsa de Valores é a melhor maneira de uma empresa se financiar sem precisar pagar os juros que, no caso do Brasil, são astronômicos. Mas tem a contrapartida de pulverizar a propriedade, em vez de concentrá-la em poucas mãos, sempre em tese (na prática, há mil e um trambiques, mas essa é outra história).
O fato é que eu sou "sócio" do Real (o braço brasileiro do ABN) há uns 30 anos, como correntista, não como acionista. Queria ter o direito de participar da escolha de meu novo "sócio". Mas não sou nem cheirado nem sei como me juntar à rebelião de meus "parceiros" na Holanda. Sinto-me um bugre.


crossi@uol.com.br

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