São Paulo, terça-feira, 11 de maio de 2010

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PLÍNIO FRAGA

Mamãe urso na TV

RIO DE JANEIRO - Dilma Rousseff apareceu na TV no final de semana, do Dia das Mães, rodeada de mulheres, fazendo um discurso sobre a urgência de combater o crack, que está esvaindo em fumaça parte da juventude brasileira.
Num olhar apressado, sua fala na inserção publicitária petista parece extemporânea, como se sua campanha tivesse aderido ao projeto de "viajar na maionese" anunciado pelo aliado (ou ex-aliado?) Ciro Gomes. Era uma propaganda de absorção difícil, apoiada em três palavras: "autoridade, carinho e apoio". A pré-candidata encerrava: "Vamos vencer essa luta, e nós mães vamos estar na linha de frente".
Foi uma mensagem dirigida ao segmento do eleitorado que tem apresentado grande resistência a Dilma, o das mulheres. O PT usou o fantasma do crack para tentar atingir esse estrato social por meio daquilo que qualquer mãe de qualquer classe social mais preserva, os filhos. Apelativa? Com certeza. Eficiente? É difícil antecipar.
O PT carrega consigo uma imagem pouco atraente ao eleitorado feminino. Lula sempre teve mais votos entre homens do que entre mulheres.
Uma célebre propaganda eleitoral americana de 1984 mostrava um urso caminhando pela floresta. Dizia que muitas pessoas achavam que o urso era dócil, outras, perigoso. E ainda havia aqueles que duvidavam da própria existência dele. Encerrava dizendo que, quem quer que estivesse correto, era momento de apoiar alguém forte como um urso. Este alguém, revelava-se no final, era Ronald Reagan, o mais anticomunista dos presidentes americanos da era recente.
Uma boa propaganda pode transmitir como correta até uma ideia duvidosa. A inserção de Dilma sobre o crack é uma espécie de mamãe urso: assusta para poder oferecer a mão pesada como apoio.



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