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MARCOS NOBRE
Quanto custa um capitalismo
QUEM LÊ O NOTICIÁRIO sobre a crise na Grécia pode
achar que se trata de um
problema econômico simplesmente. O problema de como administrar uma moeda multinacional.
A Europa seguiu ontem a estratégia dos EUA em 2008. Liberou
uma quantidade colossal de recursos com o recado: se quiserem especular contra a Grécia, contra o
euro, contra a Europa, vão perder
dinheiro. Essa linguagem o "mercado" não apenas entende; também, e principalmente, agradece.
Tudo resolvido? Claro que não.
Porque a crise do euro não é uma
crise econômica simplesmente.
Porque o euro não foi um projeto econômico simplesmente.
Para começar, o euro teve a ambição de ser contraponto à hegemonia mundial solitária dos EUA a
partir dos 1990. Mas pretendeu sobretudo defender um modelo de
capitalismo que seria próprio da
Europa. Foi para preservar o quanto possível desse modelo que a Comunidade Europeia se tornou
União Europeia, expandiu fronteiras e criou uma moeda comum.
Não que seja o paraíso na Terra,
evidentemente. As diferenças internas são enormes, o modelo é
mais imaginário do que real. Nem
todo país é Suécia ou Alemanha. As
dificuldades de financiamento são
notórias.
Mas, pelo menos, é um modelo
baseado na proteção social para
quem vive do trabalho. Que pretende aliar democracia supranacional com coisas básicas, como
poder sair à rua sem temer pela
própria vida. É bem mais do que se
pode encontrar nos EUA. Ou na
China. Para não falar no Brasil, que
nada tem de modelo, mas que segue o padrão europeu quando o assunto é escrever uma Constituição.
É um pesadelo imaginar que a
grande crise do neoliberalismo alucinado dos anos 1990 acabará por
puxar para o túmulo também o
projeto de um modelo social de
âmbito europeu. Mas essa parece
ser hoje a tendência.
Não que o euro vá desaparecer, ou que algum país vá deixar o euro.
Nem que a União Europeia vá desaparecer. Mas o grau de integração tende a regredir. As instâncias
supranacionais tendem a perder
força e poder. A necessidade de elevar ainda mais os gastos públicos
para financiar vários países ao
mesmo tempo deve colocar a Europa em um ritmo ainda mais medíocre de retomada econômica.
Quando finalmente sair da crise,
a Europa terá já perdido terreno
precioso no campo internacional.
Porque o euro não é o dólar. Mas
também porque, segundo a cartilha econômica ortodoxa, esse modelo de capitalismo é caro demais.
Imitar o modelo propagandeado
pelos EUA sai muito mais em conta. Para não falar no capitalismo
chinês, que é uma verdadeira pechincha social e política.
nobre.a2@uol.com.br
MARCOS NOBRE escreve às terças-feiras nesta coluna.
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