São Paulo, domingo, 11 de junho de 2000


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CLÓVIS ROSSI

Dois delírios

SÃO PAULO - São formidáveis os atalhos pelos quais vai enveredando a discussão sobre as pedradas no governador Mário Covas.
Havia uma pergunta simples a responder: é uma arma política válida atirar pedras em alguém? Escrevi sobre o assunto na coluna que a Folha Online publica às quartas-feiras, dizendo que a Constituição assegura o direito de ir e vir a todos os cidadãos, o que, como é óbvio, inclui Covas.
Um leitor contestou com o seguinte exemplo: se o Marcelinho Carioca se animasse a passear no meio da torcida do Corinthians, depois de perder o pênalti contra o Palmeiras (ainda bem), não seria agredido?
Respondi (e ainda não veio a tréplica) que, se Marcelinho fosse apedrejado, a crítica teria que ser dirigida às pedradas, não a uma suposta provocação do jogador.
Com o atalho que tomou a discussão, ficamos na seguinte simplificação besta: quem apóia as reivindicações dos professores em greve é "petista". Quem apóia as reivindicações, mas condena as pedradas, é "governista" (ou coisa pior, se é que existe coisa pior que ser chamado de "governista" hoje em dia).
Com o que se cria a inviável categoria de "petistas-governistas".
Pura perda de tempo, que só desvia a atenção do principal, que é ler adequadamente a temperatura da rua.
Há no ar uma irritação enorme com o governo nos seus vários níveis. Mas daí a achar que se está na iminência de uma convulsão social é o mais puro delírio.
A maioria não joga pedras nem mesmo faz greves (não há uma só greve de ao menos relativa importância no setor privado da economia, que obviamente emprega o maior número de trabalhadores). A maioria está se limitando a chorar e ranger os dentes em silêncio.
Daí a achar que está tudo muito bom, só porque as pedradas saem da minoria, é um delírio idêntico ao anterior, mas de sinal trocado.



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