São Paulo, terça-feira, 11 de junho de 2002

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RESTRIÇÕES EXTERNAS

Em abril, o FMI indicou que o setor privado brasileiro poderia ingressar numa crise de crédito externo acentuada e prolongada. O relatório do Fundo refletiu os rumores de que as instituições financeiras mundiais planejam reduzir suas linhas de crédito ao país em torno de 30% a 50% neste ano com o objetivo de compensar ou evitar perdas.
No mesmo sentido, em entrevista publicada domingo na Folha, Morris Goldstein, especialista em mercado de capitais, afirmou que a possibilidade de o Brasil ser forçado a "reprogramar" sua dívida externa em 2003 situa-se em 70%, independente do presidente eleito em outubro.
Isso porque o endividamento externo é relativamente elevado em um período de grande aversão ao risco. Ademais, o país encontra dificuldade para gerar recursos em moeda forte (dólar) para honrar a dívida contraída e reduzir o elevado déficit em transações correntes. A relação entre a dívida externa e as exportações é de 400%. Segundo Goldstein, desde 1980, dos países que tinham uma relação de 400% entre suas dívidas externas e as exportações, apenas o Chile conseguiu reduzi-la sem um processo de reestruturação.
De acordo com o Banco Central, em dezembro de 2001, a dívida externa brasileira atingiu US$ 226 bilhões, sendo que 46% vencem em três anos e 65%, em até cinco anos. Estima-se que o país precise captar US$ 47,6 bilhões neste ano, sendo US$ 20,8 bilhões para saldar o déficit em transações correntes e US$ 26,9 bilhões para rolar as dívidas.
Esses indicadores e os recorrentes alertas revelam a enorme dependência da economia brasileira dos mercados financeiros internacionais e, portanto, a vulnerabilidade diante de uma contração abrupta e violenta do crédito externo. Diante disso, o país precisa alterar urgentemente sua inserção internacional, visando à realização de superávits comerciais crescentes. Caso contrário, as profecias de renegociação involuntária da dívida podem se auto-realizar.



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