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RESTRIÇÕES EXTERNAS
Em abril, o FMI indicou que o
setor privado brasileiro poderia
ingressar numa crise de crédito externo acentuada e prolongada. O relatório do Fundo refletiu os rumores
de que as instituições financeiras
mundiais planejam reduzir suas linhas de crédito ao país em torno de
30% a 50% neste ano com o objetivo
de compensar ou evitar perdas.
No mesmo sentido, em entrevista
publicada domingo na Folha, Morris
Goldstein, especialista em mercado
de capitais, afirmou que a possibilidade de o Brasil ser forçado a "reprogramar" sua dívida externa em 2003
situa-se em 70%, independente do
presidente eleito em outubro.
Isso porque o endividamento externo é relativamente elevado em um
período de grande aversão ao risco.
Ademais, o país encontra dificuldade
para gerar recursos em moeda forte
(dólar) para honrar a dívida contraída e reduzir o elevado déficit em transações correntes. A relação entre a dívida externa e as exportações é de
400%. Segundo Goldstein, desde
1980, dos países que tinham uma relação de 400% entre suas dívidas externas e as exportações, apenas o
Chile conseguiu reduzi-la sem um
processo de reestruturação.
De acordo com o Banco Central,
em dezembro de 2001, a dívida externa brasileira atingiu US$ 226 bilhões,
sendo que 46% vencem em três anos
e 65%, em até cinco anos. Estima-se
que o país precise captar US$ 47,6 bilhões neste ano, sendo US$ 20,8 bilhões para saldar o déficit em transações correntes e US$ 26,9 bilhões para rolar as dívidas.
Esses indicadores e os recorrentes
alertas revelam a enorme dependência da economia brasileira dos mercados financeiros internacionais e,
portanto, a vulnerabilidade diante de
uma contração abrupta e violenta do
crédito externo. Diante disso, o país
precisa alterar urgentemente sua inserção internacional, visando à realização de superávits comerciais crescentes. Caso contrário, as profecias
de renegociação involuntária da dívida podem se auto-realizar.
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