São Paulo, terça-feira, 11 de junho de 2002

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PAINEL DO LEITOR

Alegria que dura pouco
"O presidente Fernando Henrique Cardoso deveria ler o artigo de Boris Fausto de ontem ("A outra bola'). A página A2 desta Folha sempre tem grandes momentos, mas, nesta segunda-feira, a vitória foi do nosso futebol. No momento em que nós, brasileiros, começamos a vibrar com a chance do penta, o golaço vem de um outro craque: Boris Fausto. Presidente, de nada adiantará Cafu levantar a taça se tudo continuar como está. A alegria do brasileiro vai durar pouco!"
Luiz Alfredo Almeida (São Paulo, SP)

O dono do voto
"Foi bastante oportuna a entrevista do megaespeculador George Soros ao jornalista Clóvis Rossi ("Soros diz que EUA irão impor Serra e que Lula seria o caos", Brasil, pág. A4, 8/6). Ela mostra que os EUA, com a sua política mesquinha, querem mandar na vontade de todos, não respeitando o processo democrático de um país como o Brasil. Os brasileiros de bom senso não se curvarão. Se Lula é o caos, que venha o caos. Aproveito o espaço do "Painel do Leitor" para enviar um recado ao senhor Soros: "No meu voto, mando eu!"."
Antonio Cláudio Rodrigues (Itabuna, BA)

Esquecimento
"Fico bobo de ver o Brasil parar com tudo para assistir a uma partida de futebol, em que alguns barbados ficam correndo atrás de uma bola idiota. Que pais é este? Que absurdo! A gente anda pelas ruas e não vê ninguém. Os botecos ficam lotados de pessoas hipnotizadas pela televisão. Copa do Mundo é bom por isso: o brasileiro, enquanto assiste aos jogos, esquece que a barriga está roncando de fome, esquece que a mulher está bebendo até cair no bar da esquina, esquece que o salário já acabou e que, no dia seguinte, o patrão vai tirar o couro de novo." Mario Annuza (Rio de Janeiro, RJ)

PT e Consenso de Washington
"Em minha recente viagem aos EUA, fui acompanhado por um cinegrafista que, diferentemente do que informou a nota "Fora do ar" (coluna "Painel", Brasil, pág. A4, 5/6), gravou meus pronunciamentos e audiências. Valendo-me das degravações, esclareço que jamais defendi, como diz a reportagem "Acordo com FMI não é descartado" (Brasil, pág. A6), lá ou aqui, o Consenso de Washington, conjunto de reformas conservadoras que comprometeram o crescimento econômico da América Latina e têm uma responsabilidade direta pela grave crise da região. O que disse -e está gravado- foi: "É particularmente importante estar numa casa que teve um papel importante na construção do Consenso de Washington. E que sugeriu um conjunto de reformas econômicas para a América Latina ao longo de uma década. Nós, do PT, fomos extremamente críticos e, depois de uma década, nos permitimos, eu diria, fazer um balanço mais cuidadoso. Vários indicadores demonstram que esse caminho precisa ser rediscutido e revisto (...)". Apresentei as taxas de crescimento que demonstram resultados medíocres para a região e o Brasil e acrescentei: "(...) Mas não é apenas o crescimento econômico que deveríamos analisar. Se a gente olhar em torno do Brasil, a instabilidade política revela o quadro dramático que alguns países atravessam. A Colômbia está em guerra civil, a Argentina vive uma crise dramática, a Venezuela, uma crise institucional que demonstra que precisamos de um novo caminho ao Consenso de Washington. É isso que tem sido, eu diria, o grande esforço de elaboração teórica e de formulação de alternativas a que o nosso partido vem-se dedicando -como construir uma transição de crescimento econômico sustentável, com estabilidade, e onde o social seja o elemento estruturante de uma nova dinâmica econômica". Fiz ainda uma dura crítica a toda política de comércio exterior dos EUA e aos prejuízos impostos ao Brasil. Critiquei o FMI e as suas políticas de ajuste recessivo e ortodoxo, em especial a relação com a Argentina, e afirmei que não iríamos "nos render à agenda imposta pelo mercado financeiro". E concluí: "(...) Acho que os países do Terceiro Mundo, países mais pobres, precisam de pessoas como Gandhi, Mandela, e não de mais Fujimori, Salinas e Menem. Eu diria que o Brasil precisa de Lula". A íntegra de minha apresentação pode ser solicitada em meu gabinete (0/xx/ 61/318-5825) ou por meio do e-mail dep.mercadante@camara.gov.br."
Aloizio Mercadante, deputado federal - PT-SP (São Paulo, SP)

Resposta do jornalista Marcio Aith, correspondente da Folha em Washington - O deputado confirma integralmente o texto da Folha. Em sua carta, reconhece ter dito que os petistas foram "extremamente críticos" ao Consenso de Washington no início dos anos 90 e que, "depois de uma década, nos permitimos, eu diria, fazer um balanço mais cuidadoso". O texto da Folha limitou-se a informar essa declaração e nunca divulgou que Mercadante defendeu o Consenso de Washington. Quanto ao cinegrafista que acompanhou o deputado na viagem aos EUA, foi barrada a sua entrada na sala de Kurt Struble, subsecretário-assistente de Estado dos EUA para o Hemisfério Ocidental. A nota do "Painel" limitou-se a informar esse fato.

Reciclagem
"Uma questão de primordial importância para o nosso planeta é tratada de maneira muito superficial. Por que não colocar em cada praça e em cada supermercado os contêineres para a coleta desses materiais? São tão poucos os que existem que, para não ter lixo acumulado em casa, joga-se tudo fora, degradando e poluindo cada dia mais o nosso planeta. Uma campanha bem dirigida ajudaria e todos."
Margarita Barreiros (São Paulo, SP)

Garotinho e Itamaraty
"Se verdadeiras as declarações do candidato a presidente Anthony Garotinho sobre o Itamaraty, elas refletem o seu profundo despreparo e desconhecimento da realidade do Estado e da política internacional praticada pelo país. Num momento em que o Brasil e a América Latina sofrem uma forte pressão para se integrarem à Alca, sem nenhuma programação prévia e preparatória -como as realizadas no processo de constituição da União Européia-, atacar e tentar desqualificar o Itamaraty, uma das mais sólidas e tradicionais instituições brasileiras, é um sinal claro de irresponsabilidade."
Cesar Augusto Oller do Nascimento, sociólogo (São Paulo, SP)

Apagão
"O engenheiro Ildo Sauer ("Lamúrias, ameaças e o seguro-apagão", pág. A3, 10/6), comentando que o BNDES antecipou R$ 7 bilhões a empresas privadas por conta de sobretarifa compensatória a um suposto prejuízo de apenas R$ 3,1 bilhões, disse não colocar "em questão a honra de quem quer que seja" e atribuiu o que chamou de verdadeiro escândalo "à desastrada e equivocada política imposta pelo governo para o setor de energia". O que o articulista talvez não saiba é que, na Justiça criminal, considera-se conclusivo indício de autoria de roubo, por exemplo, ser alguém encontrado com o produto do crime logo após a sua prática (fato que inverte o ônus da prova). O professor Sauer não discute a honra de governantes e de empresários envolvidos na aludida transação, mas a eles cabe, diante dos números apresentados, provar que disso não se locupletaram ilicitamente, pois, para os crimes de peculato e corrupção, vale o que foi dito sobre a prova do roubo."
Pedro Falabella Tavares de Lima, procurador de Justiça e membro do Ministério Público de São Paulo (São Paulo, SP)



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