São Paulo, quinta-feira, 11 de junho de 2009

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KENNETH MAXWELL

Brown sob ataque

AS ELEIÇÕES europeias de domingo passado mostraram um desvio decisivo na direção da direita. Do cerne da "velha" Europa, na Alemanha e França, aos "novos" países da Europa central e oriental, como Hungria e Áustria, os partidos políticos de centro e da ala direita se saíram bem. Os resultados não promoverão grande mudança, mas são importante indicação quanto à direção em que o vento está soprando.
A exceção é o Reino Unido. O primeiro-ministro, Gordon Brown, se apega precariamente ao poder; é muito difícil perceber como o Partido Trabalhista poderia recuperar-se do declínio terminal em que se encontra. Na semana passada, dez ministros deixaram o governo, alguns dos quais com comentários menos que elogiosos sobre a liderança de Brown.
Nas eleições europeias, os trabalhistas sofreram sua pior derrota desde 1918, e seu desempenho declinou até mesmo nas áreas em que tradicionalmente contam com maior apoio, como Londres, o nordeste da Inglaterra, o País de Gales e a Escócia. Caso esses resultados venham a se repetir na próxima eleição geral, que precisa ocorrer em algum momento dos próximos 12 meses, antes do final do mandato trabalhista de cinco anos, o partido poderia perder 140 assentos na Câmara dos Comuns, ou 40% dos 350 assentos conquistados no último pleito.
Brown foi salvo pela intervenção de lorde Peter Mandelson. Ao retornar no ano passado de Bruxelas, onde era comissário europeu do Comércio Internacional, Mandelson, conhecido nos jornais sensacionalistas britânicos como "o príncipe das trevas", foi apontado por Brown para ministro dos Negócios. Aparentemente, foi ele que orquestrou a resistência do primeiro-ministro ao complô que tinha por objetivo a sua resignação.
Na sexta-feira passada, lorde Mandelson refutou histórias sobre os acessos de mau humor de Brown. Havia rumores de que o líder britânico teria jogado celulares na parede e xingado assessores.
Mas, no domingo, e-mails escritos por lorde Mandelson quando estava em Bruxelas vazaram para a imprensa, e neles o primeiro-ministro é descrito como "inseguro em termos físicos e emocionais" e "iracundo".
O contraste com o Brasil não poderia ser mais notável. O presidente Lula continua excepcionalmente popular, e seu índice de aprovação atingiu os 81,5% nas pesquisas mais recentes. Não é que faltem escândalos no Brasil, mas Lula continua a ser o "presidente Teflon". Os escândalos nunca parecem atingi-lo. E sua força no cenário interno fortalece o papel internacional do Brasil.


KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras nesta coluna.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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