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KENNETH MAXWELL
Brown sob ataque
AS ELEIÇÕES europeias de
domingo passado mostraram um desvio decisivo na
direção da direita. Do cerne da "velha" Europa, na Alemanha e França, aos "novos" países da Europa
central e oriental, como Hungria e
Áustria, os partidos políticos de
centro e da ala direita se saíram
bem. Os resultados não promoverão grande mudança, mas são importante indicação quanto à direção em que o vento está soprando.
A exceção é o Reino Unido. O primeiro-ministro, Gordon Brown, se
apega precariamente ao poder; é
muito difícil perceber como o Partido Trabalhista poderia recuperar-se do declínio terminal em que
se encontra. Na semana passada,
dez ministros deixaram o governo,
alguns dos quais com comentários
menos que elogiosos sobre a liderança de Brown.
Nas eleições europeias, os trabalhistas sofreram sua pior derrota
desde 1918, e seu desempenho declinou até mesmo nas áreas em que
tradicionalmente contam com
maior apoio, como Londres, o nordeste da Inglaterra, o País de Gales
e a Escócia. Caso esses resultados
venham a se repetir na próxima
eleição geral, que precisa ocorrer
em algum momento dos próximos
12 meses, antes do final do mandato trabalhista de cinco anos, o partido poderia perder 140 assentos
na Câmara dos Comuns, ou 40%
dos 350 assentos conquistados no
último pleito.
Brown foi salvo pela intervenção
de lorde Peter Mandelson. Ao retornar no ano passado de Bruxelas,
onde era comissário europeu do
Comércio Internacional, Mandelson, conhecido nos jornais sensacionalistas britânicos como "o
príncipe das trevas", foi apontado
por Brown para ministro dos Negócios. Aparentemente, foi ele que
orquestrou a resistência do primeiro-ministro ao complô que tinha
por objetivo a sua resignação.
Na sexta-feira passada, lorde
Mandelson refutou histórias sobre
os acessos de mau humor de
Brown. Havia rumores de que o líder britânico teria jogado celulares
na parede e xingado assessores.
Mas, no domingo, e-mails escritos
por lorde Mandelson quando estava em Bruxelas vazaram para a imprensa, e neles o primeiro-ministro é descrito como "inseguro em
termos físicos e emocionais" e
"iracundo".
O contraste com o Brasil não poderia ser mais notável. O presidente Lula continua excepcionalmente popular, e seu índice de aprovação atingiu os 81,5% nas pesquisas
mais recentes. Não é que faltem escândalos no Brasil, mas Lula continua a ser o "presidente Teflon". Os
escândalos nunca parecem atingi-lo. E sua força no cenário interno
fortalece o papel internacional do
Brasil.
KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras
nesta coluna.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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