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RUY CASTRO
Nas menores façanhas
RIO DE JANEIRO - Portugal, hoje, é
uma potência das comunicações.
Mas, em 1974, quando eu morava
lá, não era assim. A TV se limitava a
um canal estatal que só entrava no
ar à tarde, com aulas de matemática; seguia com desenhos animados
para os miúdos; oferecia um telejornal na hora da sopa e fechava
com um filme americano legendado. Tudo em glorioso preto-e-branco. Antes da meia-noite, íamos dormir, nós e a TV.
A Copa do Mundo da Alemanha,
naquele ano, refletiu essa modéstia. Como Portugal não estava na
disputa, os raros jogos transmitidos
"em directo" (ao vivo) eram os dos
favoritos: Brasil, Inglaterra, Holanda, a própria Alemanha. Mas a
maioria passava mesmo "em diferido" (teipe), dois dias depois do fato,
quando já sabíamos tudo pelos jornais. Pois se era assim num país europeu em 1974, imagine como não
seria antes e na maioria dos países.
Isto significa que nem os craques
daquela Copa foram vistos pelas
grandes massas. E olhe que, em
1974, a Alemanha, campeã, tinha
Beckenbauer, Breitner e Gerd Muller; a Holanda tinha Cruyff, Krol e
Neeskens; o Brasil, que ficou em 4º,
tinha Rivellino, Paulo César, Luiz
Pereira, Marinho Chagas e outros.
Significa também que Pelé, Garrincha, Didi, Zizinho, Puskas, Kocsis, Banks, Bobby Moore, Kopa,
Fontaine, Eusébio, Gigghia e outros
heróis de Copas ainda mais remotas só foram vistos por uma fração
-mesmo assim, no cinema, e em
imagens borradas e fugidias, em
que a câmera capturava no máximo
os chutes a gol, e não as jogadas geniais que os antecediam.
Bem, a partir de hoje, o mundo
assistirá a todos os 64 jogos da Copa, inclusive o imperdível Nova Zelândia x Coreia do Norte, se houver.
Para gáudio de 3 bilhões de pessoas, 32 câmeras HD por jogo estarão ligadas nas menores façanhas
de Gilberto Silva, Elano, Josué, Gilberto, Kleberson, Michel Bastos,
Felipe Melo e que tais.
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