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MELCHIADES FILHO
"Muleques" e "panicats"
BRASÍLIA - A TV trouxe a primeira
novidade desta campanha presidencial. Os candidatos não são
mais apenas alvo dos programas
de humor. Tornaram-se também
atores. Aceitam de bom grado participar dos quadros concebidos para
ridicularizá-los.
De um lado, Dilma Rousseff desdenha da própria aparência e promete dançar o "rebolation" se eleita. Do outro, José Serra saltita e cantarola o hit "Ah, Muleque" e faz escada para críticas de detratores.
Deve ser mesmo difícil resistir à
simpatia e ao talento de Sabrina Sato, a principal "isca" do "Pânico na
TV" para desarmar os políticos. Ou
dos demais humoristas e dançarinas (as "panicats") do programa
-eles muito bons, elas muito boas.
Mas há cálculo por trás do constrangimento. Dilma e Serra viraram
habitués dos esquetes porque lhes
interessa desfazer ou no mínimo
atenuar a fama de mal-humorados.
Em tese, uma dose de irreverência pode ser útil na política, sobretudo num momento com tantos
eleitores indiferentes. Pode contribuir para tornar mais popular a
agenda pública, por exemplo.
Além disso, talvez seja saudável
o candidato rir um pouco de si. O
escracho diminui o "salto alto" e
serve de contraponto às aflições e
paranoias da disputa eleitoral.
Mas existe algo estranho nessa
nova fase do humor nacional, sem
prejuízo de seu sucesso.
Primeiro porque, no fundo, ele
não incomoda. Piadas sobre plásticas ou olheiras não chegam a embaraçar Dilma e Serra como fariam
determinadas perguntas sobre Previdência, SUS, mudanças do currículo escolar, uso do dinheiro dos
impostos e outras urgências das
quais os dois têm evitado tratar.
Segundo porque há o risco de os
candidatos, como calouros nos trotes universitários, ficarem reféns do
esculacho. O risco de perder o bom
senso para não perder a piada.
Se das urnas sair a primeira mulher presidente, fará sentido ela festejar a vitória requebrando?
melchiades.filho@grupofolha.com.br
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