São Paulo, Domingo, 11 de Julho de 1999
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BRASIL, TERCEIRO MUNDO

Os resultados mais recentes do Índice de Desenvolvimento Humano, calculado pela ONU, confirmam o Brasil como país do Terceiro Mundo.
Entre os 174 países para os quais foram combinados indicadores econômicos, de saúde e educação, o Brasil fica em 79º lugar. Países cujas economias são tidas como em desenvolvimento -que parecem capazes de se aproximar dos padrões de nações mais avançadas- estão em melhor posição que o Brasil.
Grécia, México, Coréia do Sul, Chile, Argentina, Polônia e Tailândia são alguns dos exemplos mais notórios e que recentemente também estiveram sujeitos a fortes crises econômicas.
Dos países "emergentes", com economias de tamanho médio e portanto candidatos a ocupar mais espaço na economia global, há somente duas exceções em posições piores que a do Brasil: África do Sul e China.
Mas a África do Sul mal começou a superar um regime de décadas de exclusão social e racismo aberto. E a China, em 98º lugar, vem melhorando rapidamente seus padrões de desenvolvimento humano. Entre 90 e 97, o país melhorou sua situação em 20,66%. No Brasil o mesmo indicador teve melhora de 10,73%.
Mas o relatório da ONU revela que o ideal de aproximação gradativa dos padrões vigentes no Primeiro Mundo está longe de ser realizado para o conjunto da humanidade. Nesta década surgiram novas barreiras para os mais pobres: a tecnologia da informação e a manipulação das organizações econômicas globais em benefício dos países mais desenvolvidos.
Causa perplexidade, por exemplo, que países com desenvolvimento consolidado, como os EUA e o Japão, tenham ainda assim continuado a melhorar seus padrões de vida com intensidade semelhante à registrada pela China emergente, 17,93% e 19,53%, respectivamente.
A globalização da última década, se de fato criou novos ricos em partes do mundo, foi incapaz de reduzir o hiato entre pobres e ricos.
As instituições globais refletem a desigualdade. A própria ONU diz que a OMC (Organização Mundial do Comércio), agente da liberalização econômica, progrediu mais que a Organização Ambiental Mundial.
Houve mais avanço "nas normas, padrões, políticas e instituições para abrir os mercados mundiais do que para as pessoas e seus direitos".
Trata-se de retrato lúgubre de uma época à qual não faltam propagandistas com olhos voltados apenas para a liberalização de mercados. Uma visão mais ampla serve de alerta. Um alerta ainda mais inquietante quando se confirma a paralisia do Brasil e a incapacidade do seu governo de participar do movimento em favor de uma ordem mundial menos iníqua.


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