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O ACORDO DO FHC 2
A opinião pública espera há meses a
recomposição de um governo estremecido pela derrocada da política do
real forte, pelos efeitos sociais da recessão e pelo subsequente tumulto
na coalizão fernandina, que tem se
dedicado a uma azáfama de intrigas
diante da fragilidade presidencial.
O aspecto ora mais em evidência da
apatia governativa é o político. Espera-se para os próximos dias a confirmação da abulia ou algum indício de
que o presidente está disposto a dar
algum basta às pressões dos aliados,
que mais e mais furtam sua autonomia e desbastam a governabilidade.
O presidente parece preparar uma
reforma ministerial. Praticamente
chancelou o casuísmo no episódio
Ford/Bahia, com o que permanece a
sombra de Antonio Carlos Magalhães sobre seu governo, embora o
poder do senador seja mais periférico
do que se divulga, mesmo que cause
embaraços políticos e de imagem.
Há indícios de que o presidente pretenderia ainda trilhar o caminho da
composição também no remanejamento do ministério.
O que pode estar se armando, pois,
é um grande acerto para o segundo
mandato. O programa de conciliações já estaria em curso, por exemplo, na folga fiscal a Estados e municípios. O governo federal parece querer aplacar a revolta dos novos governadores, que vem do início do ano,
com uma grande rodada de acordos
financeiros e rolagens de dívidas.
Há pouco, FHC reuniu os presidentes do Senado, da Câmara e do STF
para aliviar a tensão entre essas instituições. Tal disputa, que chegou a insultos, fazia fermentar a desordem
no Congresso, entre líderes da coalizão governista, e poderia afetar interesses do Planalto no Supremo, onde
se decidem causas essenciais para o
sucesso do ajuste fiscal.
Mas, se quiser demonstrar autoridade, indicar rumos para o país e impulsionar as reformas, o presidente
teria de encontrar uma nova fórmula
para exercer o poder. Decerto ela não
poderá ser a da infinita conciliação,
da tolerância indevida com mesquinharias de seus aliados.
Ainda assim, FHC tem sob seu comando direto os condutores da economia e da política social. Estaria
mais livre, pois, para imprimir alterações de rota nessas áreas. Mas na
economia a grande mudança foi forçada -a desvalorização. O novo esteio da política econômica, se corrige
o desastre da âncora cambial, não
afeta a passividade nesse setor. No
mais, há uma tentativa de auxiliar a
reestruturação industrial -fusões e
ganhos de escala- em alguns setores-chave; há as políticas tópicas do
BNDES, que vêm do primeiro FHC.
O teste desse tímido e pouco renovado programa econômico virá em
2000, se o país voltar a crescer. Há o
risco de que, com a economia em
movimento, o Brasil continue a ter
problemas nas contas externas por
excesso de importações. Voltaria a
dependência também excessiva de financiamento externo, sempre uma
ameaça ao crescimento sustentado.
Há, portanto, o risco de FHC estar
apenas reorganizando as peças algo
lascadas do quebra-cabeças do primeiro mandato; a peça nova seria
apenas a cara política de apaziguamento dos governadores.
Na política, refaz-se o arranjo da
coalizão; mantêm-se os conciliábulos e não se vislumbra acerto para
aprovar as reformas no Congresso.
Na economia, a nova âncora não é
acompanhada de novidades na política industrial e, assim, pode-se reeditar, sem o programa suicida do real
forte, o liberalismo trôpego do primeiro mandato. Ao que parece, afigura-se para o segundo FHC a velha
estratégia de mudar para manter.
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