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O mal-estar do ganhador
CLÓVIS ROSSI
São Paulo - Está no Relatório sobre o
Desenvolvimento Humano, versão
1999, a ser divulgado oficialmente
amanhã pelas Nações Unidas:
"Os mercados não são nem a primeira nem a última palavra no desenvolvimento humano. Muitas atividades e
bens essenciais ao desenvolvimento
são fornecidos fora dos mercados, mas
estão sendo gradualmente eliminados
pela pressão da concorrência mundial."
Nada de muito diferente do que o
leitor poderá ter lido em quem não se
dobrou à ditadura do chamado "pensamento único", o receituário neoliberal que recomenda deixar tudo ao livre arbítrio do mercado.
O que há de espantoso no trecho acima reproduzido é o fato de um organismo internacional se sentir compelido a dizer coisas tão óbvias, porque ficaram soterradas pela adoração dos
mercados.
O relatório da ONU é, acima de tudo, um libelo contra a globalização
nos termos em que ela foi imposta ao
planeta. Ou contra a "globalização assimétrica", para usar expressão de
Fernando Henrique Cardoso, feliz expressão mesmo vinda de quem não faz
nada, rigorosamente nada, para diminuir a assimetria.
Como as vítimas da assimetria não
se mexem, talvez a esperança de uma
mudança possa ser posta exatamente
no lado oposto, nos ganhadores. Pesquisa recente da Battleground norte-americana, empresa bipartidária conduzida por um republicano e um democrata, mostra que a maioria absoluta dos americanos (51%) acha que
as coisas se movem na direção errada.
Mostra igualmente que o pessimismo
sobre o futuro supera o otimismo por
15 pontos percentuais, quando o usual
é um equilíbrio relativo.
Estamos falando de um país que
cresce há sete anos consecutivos e que é
visto como o líder mundial incontrastável. Se os ganhadores se sentem mal,
talvez as coisas comecem a mudar. Só
assim, aliás, porque os perdedores renderam-se.
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