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Expertos e espertos
ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES
O "Aurélio" define "experto" como
aquele que é detentor de muitos conhecimentos e importante experiência. No caso do Brasil, muitos posam
de expertos, mas, na realidade, não
passam de meros espertos. Os demais
são por eles transformados em tolos e
impotentes.
É o que acontece com o ajuste fiscal.
A medida é necessária, é claro. Mas a
sua execução está honrando mais a
academia dos espertos do que a dos
expertos. Sim, porque, em lugar de
usar seus conhecimentos para comprimir despesas, o governo não pára
de aumentar impostos, como ocorreu
com a Cofins, CPMF, Contribuição
Social sobre o Lucro e vários preços
públicos -água, telefone, energia e
petróleo, que, doravante, estará atrelado ao dólar e aos preços internacionais.
O governo se justifica, invocando a
necessidade de defender as finanças
públicas. A lógica é irretorquível. Mas
é essa mesma lógica que compromete
o desempenho da economia. Como
exportar mais, se os componentes de
custos do que seria exportado não param de aumentar? Por que praticar todos esses aumentos de uma só vez?
Se indagarmos ao povo o que achou
das metas de inflação, é bem provável
recebermos, como resposta, uma outra pergunta: e as metas de emprego,
quais são?
Emprego depende de produção e
exportação, que estavam prontas para
deslanchar, já neste segundo semestre, não fora o golpe tão ferino dos impostos e preços públicos -para não
falar nos juros.
Os políticos sempre se queixam de
falta de poder. Mas, na verdade, quando o Executivo, Legislativo e Judiciário decidem levar em conta os interesses de cada um junto de seus eleitores
e corporações de ofício, o seu poder é
imenso, o que acaba resultando na observada inanição no campo das despesas e na incontida agressividade no
campo das receitas.
Fala-se na lei de responsabilidade
fiscal, segundo a qual todo esperto que
vier a passar por experto pagará com
seus próprios recursos os estragos
ocasionados.
No Congresso Nacional, essa medida está caminhando na velocidade inversa da sua importância. Ainda não
saiu das comissões técnicas, onde
muitos expertos procuram justificar
as ações de conhecidos espertos.
A economia brasileira está pronta
para deslanchar e gerar empregos a
curto prazo, desde que se garantam
condições isonômicas para os produtores competirem. Do contrário, o que
se ganhou com o realismo cambial irá
para o ralo, em nada melhorando o
quadro do emprego e as condições sociais.
É... Parece que o Brasil está precisando de mais expertos e menos espertos.
E, sobretudo, de expertos que usem a
sua "experteza" para o bem da nação,
e não apenas para beneficiar os interesses dos espertos.
Antonio Ermírio de Moraes escreve aos domingos
nesta coluna.
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