São Paulo, Domingo, 11 de Julho de 1999
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Expertos e espertos

ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES

O "Aurélio" define "experto" como aquele que é detentor de muitos conhecimentos e importante experiência. No caso do Brasil, muitos posam de expertos, mas, na realidade, não passam de meros espertos. Os demais são por eles transformados em tolos e impotentes.
É o que acontece com o ajuste fiscal. A medida é necessária, é claro. Mas a sua execução está honrando mais a academia dos espertos do que a dos expertos. Sim, porque, em lugar de usar seus conhecimentos para comprimir despesas, o governo não pára de aumentar impostos, como ocorreu com a Cofins, CPMF, Contribuição Social sobre o Lucro e vários preços públicos -água, telefone, energia e petróleo, que, doravante, estará atrelado ao dólar e aos preços internacionais.
O governo se justifica, invocando a necessidade de defender as finanças públicas. A lógica é irretorquível. Mas é essa mesma lógica que compromete o desempenho da economia. Como exportar mais, se os componentes de custos do que seria exportado não param de aumentar? Por que praticar todos esses aumentos de uma só vez?
Se indagarmos ao povo o que achou das metas de inflação, é bem provável recebermos, como resposta, uma outra pergunta: e as metas de emprego, quais são?
Emprego depende de produção e exportação, que estavam prontas para deslanchar, já neste segundo semestre, não fora o golpe tão ferino dos impostos e preços públicos -para não falar nos juros.
Os políticos sempre se queixam de falta de poder. Mas, na verdade, quando o Executivo, Legislativo e Judiciário decidem levar em conta os interesses de cada um junto de seus eleitores e corporações de ofício, o seu poder é imenso, o que acaba resultando na observada inanição no campo das despesas e na incontida agressividade no campo das receitas.
Fala-se na lei de responsabilidade fiscal, segundo a qual todo esperto que vier a passar por experto pagará com seus próprios recursos os estragos ocasionados.
No Congresso Nacional, essa medida está caminhando na velocidade inversa da sua importância. Ainda não saiu das comissões técnicas, onde muitos expertos procuram justificar as ações de conhecidos espertos.
A economia brasileira está pronta para deslanchar e gerar empregos a curto prazo, desde que se garantam condições isonômicas para os produtores competirem. Do contrário, o que se ganhou com o realismo cambial irá para o ralo, em nada melhorando o quadro do emprego e as condições sociais.
É... Parece que o Brasil está precisando de mais expertos e menos espertos. E, sobretudo, de expertos que usem a sua "experteza" para o bem da nação, e não apenas para beneficiar os interesses dos espertos.


Antonio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.


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