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CLÓVIS ROSSI
Muito além do mercado
SÃO PAULO - Anthony Lewis, colunista do jornal norte-americano "The New York Times", um adepto
confesso da superioridade absoluta
do livre mercado, passou algumas semanas na Itália.
Voltou convencido de que "há mais
coisas na vida -na vida civilizada- do que a competição desregulada do mercado". Descobriu (ou redescobriu) valores como "humanidade, cultura, beleza, comunidade, que
podem exigir desvios da fria lógica da
teoria do mercado".
Lewis encantou-se, por exemplo,
com o fato de que o sistema público
de saúde italiano envia uma enfermeira periodicamente para acompanhar uma paciente que tem esclerose
múltipla e mora nos confins, o que
tornaria complicado e custoso seu
deslocamento para a cidade.
Pergunta o colunista se esse comportamento é um desvio, um desperdício -pela lógica do mercado- ou,
ao contrário, mostra que uma sociedade "é mais civilizada para todos se provê a ajuda médica necessária para todos os que dela necessitam".
Fico claramente com a segunda hipótese, embora tenha sérias dúvidas de que seja de fato possível dar a todos, na justa medida, a ajuda necessária (médica, educacional ou de outra natureza).
De todo modo, é importante rediscutir o que é, exatamente, civilização.
Até faz pouco, parecia dado como inquestionável que a civilização era o
que o mercado determinava.
O crescimento exponencial e contínuo da economia norte-americana, a
partir de 1991, passou a ser usado como prova adicional e definitiva, já
que poucos países cultuam tanto o
mercado como os EUA.
No Brasil, então, foram poucos os
que pararam para pensar que o
"boom" norte-americano não era
uma prova, mas apenas uma etapa
de um ciclo. O ciclo inverteu-se, e chegou o dia da retração. Espera-se que
os baba-ovos tupiniquins entendam,
como Anthony Lewis, que há vida civilizada além do mercado.
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