São Paulo, sábado, 11 de setembro de 2004

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FERNANDO RODRIGUES

Marta e a fila

BRASÍLIA - Há três meses, Marta Suplicy estava no chão. Há um mês, reagiu bem. A euforia do PT disparou. Agora, bateu a paranóia. Há dúvidas sobre se a prefeita paulistana terá fôlego para derrotar o tucano José Serra no segundo turno da disputa mais importante do país.
A conseqüência mais visível de uma eventual derrota de Marta é o desarranjo da fila de espera dentro do PT. Como se sabe, em política existe fila. Dentro dos agrupamentos partidários, cada um espera sua vez. Essa é uma regra de ouro.
Um caso clássico de "fura fila" foi Ciro Gomes. Queria ser presidente. Saiu do PSDB. Foi para o PPS. Perdeu duas eleições, em 1998 e 2002. Hoje, vive às turras com seu partido e é ministro de Lula. Na política, nem sempre é bom furar uma fila.
Pois a fila do PT estava pronta. Marta é reeleita. Em 2006, de sua trincheira paulistana, ajuda Lula a ganhar mais quatro anos no Planalto. Aloizio Mercadante é eleito governador de São Paulo. Políticos do mesmo partido, o PT, estariam no comando da República, do maior Estado e da maior cidade do país.
E tinha mais. Em 2009, depois de dar posse a seu sucessor (Rui Falcão), Marta sairia como "a prefeita que melhor governou a cidade de São Paulo". Em 2010, José Dirceu seria eleito senador. Lula, grande estadista, depois de envergar o título de primeiro operário a ocupar o Planalto, comandaria a eleição da primeira mulher na Presidência da República. Quem? Marta Suplicy, claro.
Se Marta perder para Serra, esse roteiro rocambolesco vai para a lata do lixo. Pior. Para o PT, representará uma bagunça na fila. A então ex-prefeita, desempregada, imediatamente passaria a pleitear sua volta como candidata ao Palácio dos Bandeirantes. Aloizio Mercadante teria duas opções: espantar a fura fila ou resignar-se. Escolha difícil.
Ao falar sobre crise com a sua derrota, Marta estava certa. Será uma tremenda crise. Dentro do PT.


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