São Paulo, Sábado, 11 de Setembro de 1999
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PARA ONDE VAI O DÓLAR

É tão cedo quanto exagerado dizer que as medidas do Banco Central para conter a alta do dólar representam um custo descabido para os cofres públicos. Nas últimas semanas, o BC tem vendido títulos públicos que rendem juros mais a correção do dólar. O objetivo é desestimular especulação e satisfazer setores do mercado que precisam contar com aplicações corrigidas pela moeda norte-americana. Isto é, que necessitam de proteção contra a desvalorização.
Há preocupações quanto ao aumento da dívida pública denominada em dólar, o que pode sujeitar os cofres públicos a prejuízos em caso de desvalorização acentuada da moeda norte-americana. Embora a inquietação seja justa, o risco da estratégia, até agora, deve ser pesado tendo em vista o contexto em que ela se dá e as perspectivas da economia.
O total de títulos em dólares é hoje menor que o registrado antes da crise cambial, assim como diminuiu o peso dos papéis cambiais em relação ao conjunto da dívida pública mobiliária. Parte dos títulos que o BC tem vendido é apenas renovação de papéis que vinham vencendo, embora, sublinhe-se, a estratégia anterior fosse a de liquidá-los paulatinamente.
Sobre o custo em si da dívida nova em dólar é preciso considerar que, a princípio, ele nem mesmo pode vir a existir. O governo federal paga juros de cerca de 20% ao ano para quem comprar títulos em reais. No caso dos títulos cambiais, paga-se cerca de 12% mais a correção cambial. Se a soma de juros e desvalorização for inferior aos juros básicos em reais, não há custo adicional para os cofres públicos. Como o BC vendeu tais títulos a uma cotação do dólar considerada alta demais, que de resto caiu nos últimos dias, pode-se admitir que o risco nessa operação é razoável.
Mas, ao bancar o risco de vender títulos corrigidos pelo dólar, o BC pressupõe que as contas externas vão se comportar bem; que o governo não será mais uma vez leniente com o déficit externo. De outro modo, a estratégia do BC, o governo e os cidadãos que o sustentam terão de enfrentar dificuldades ainda maiores.


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