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PARA ONDE VAI O DÓLAR
É tão cedo quanto exagerado dizer
que as medidas do Banco Central para conter a alta do dólar representam
um custo descabido para os cofres
públicos. Nas últimas semanas, o BC
tem vendido títulos públicos que rendem juros mais a correção do dólar.
O objetivo é desestimular especulação e satisfazer setores do mercado
que precisam contar com aplicações
corrigidas pela moeda norte-americana. Isto é, que necessitam de proteção contra a desvalorização.
Há preocupações quanto ao aumento da dívida pública denominada
em dólar, o que pode sujeitar os cofres públicos a prejuízos em caso de
desvalorização acentuada da moeda
norte-americana. Embora a inquietação seja justa, o risco da estratégia,
até agora, deve ser pesado tendo em
vista o contexto em que ela se dá e as
perspectivas da economia.
O total de títulos em dólares é hoje
menor que o registrado antes da crise
cambial, assim como diminuiu o peso dos papéis cambiais em relação ao
conjunto da dívida pública mobiliária. Parte dos títulos que o BC tem
vendido é apenas renovação de papéis que vinham vencendo, embora,
sublinhe-se, a estratégia anterior fosse a de liquidá-los paulatinamente.
Sobre o custo em si da dívida nova
em dólar é preciso considerar que, a
princípio, ele nem mesmo pode vir a
existir. O governo federal paga juros
de cerca de 20% ao ano para quem
comprar títulos em reais. No caso
dos títulos cambiais, paga-se cerca de
12% mais a correção cambial. Se a soma de juros e desvalorização for inferior aos juros básicos em reais, não
há custo adicional para os cofres públicos. Como o BC vendeu tais títulos
a uma cotação do dólar considerada
alta demais, que de resto caiu nos últimos dias, pode-se admitir que o risco nessa operação é razoável.
Mas, ao bancar o risco de vender títulos corrigidos pelo dólar, o BC
pressupõe que as contas externas vão
se comportar bem; que o governo
não será mais uma vez leniente com o
déficit externo. De outro modo, a estratégia do BC, o governo e os cidadãos que o sustentam terão de enfrentar dificuldades ainda maiores.
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