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CASUÍSMO AUTOMOTIVO
O regime automotivo brasileiro é
um grave exemplo de casuísmo. É
em geral impossível distinguir objetivos de política econômica do mero
atendimento a pressões de empresas.
O exemplo mais recente foi a prorrogação do regime de cotas para a
importação de veículos da União Européia, Japão e Coréia do Sul. A cota
global de 50 mil veículos, que podem
ser comprados com desconto de
50% no Imposto de Importação, venceu no último dia 3, mas foi prorrogado pelo governo até o final do ano.
O que faz o governo, nessas horas,
do compromisso com o aumento de
impostos que vale de modo tão draconiano para tantos outros setores da
economia? Segundo, como justificar
essa prorrogação num momento em
que há preocupação com o ajuste no
comércio exterior?
As respostas não estão no plano da
racionalidade macroeconômica e
menos ainda no das análises da dinâmica setorial. Supondo que, em decorrência do desaquecimento da economia e da queda nas exportações, as
cotas não sejam preenchidas até o final do ano, haverá nova prorrogação?
Mais que o volume das importações em si, o que causa estranheza é a
qualidade da decisão. Da forma como se apresenta, ela parece responder mais a uma concessão adicional
para empresas multinacionais sem
fábricas no país. Em troca de quê,
não se sabe. Como tem sido frequente na política comercial brasileira,
faz-se uma concessão unilateral, sem
contrapartidas dos beneficiados.
Não houve pressões da Organização Mundial do Comércio, mas, no
entanto, prevaleceu o favorecimento
a algumas empresas importadoras.
Provavelmente, aliás, o benefício para as multinacionais que produzem
os carros deve ser irrelevante.
Novamente, é preciso reafirmar
que políticas setoriais que apenas
reagem a pressões de empresas são
ineficazes e tendem a ser injustas.
Quem sabe, com ministro novo, a
pasta do Desenvolvimento inicie de
uma vez por todas uma fase de planejamento de suas ações.
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