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Após o grito
LUCIANO MENDES DE ALMEIDA
No dia 7 de Setembro, fez-se ouvir o
"Grito dos Excluídos" em todas as regiões do país. Para as comunidades
cristãs, quais as lições que abrem caminhos de vida e esperança?
1) A primeira é o valor da própria organização das comunidades que vão
descobrindo melhor, à luz da fé, o seu
potencial de serviço e transformação
da sociedade. Com efeito, o compromisso social nasce da compreensão da
responsabilidade que cada pessoa humana tem para com os seus semelhantes e, mais ainda, para os discípulos de Cristo, da obrigação de promover a vida dos irmãos. O mandamento
de Jesus, de amar como Ele ama, suscita e dinamiza formas concretas de
solidariedade fraterna. O seguimento
de Cristo leva-nos a buscar a vida plena e, portanto, a promoção integral da
pessoa, desde o anúncio da fé e a educação até a solicitude para que a ninguém falte o pão, a moradia e o trabalho.
2) Torna-se mais claro, para o cristão, o dever de uma atuação política,
lúcida, ordenada e construtiva. É o
único modo de evitar soluções impulsivas que geram descontrole e recurso
à violência. A democracia tem meios
próprios para crescer e se consolidar.
É indispensável a participação dos cidadãos na promoção do bem comum.
Vai-se firmando o recurso à iniciativa
popular que permite ao povo, que se
articula, contribuir, com a própria assinatura, para a elaboração de leis urgentes ao bem-estar social.
3) Saldo positivo, ainda, da maior
colaboração entre os membros das
comunidades -unindo esforços com
outros grupos, movimentos e associações comprometidos com a dignidade
da pessoa- é, sem dúvida, o despontar de várias iniciativas em benefício
dos mais pobres. Há um número
enorme de ações que expressam e intensificam a consciência social e a busca de respostas às carências mais prementes: grupos de reflexão, formas de
cooperativa no campo e na cidade,
serviços voluntários a portadores de
deficiência, a inválidos e formas de
partilha e atendimento aos carentes.
Esse é o melhor modo de reagir ao desânimo e de continuar se empenhando para as decisões que transformam
a sociedade e corrigem a injusta distribuição de bens e oportunidades.
4) Entre os pontos candentes, lembrados pelo "Grito dos Excluídos",
que requerem a pronta atuação das
comunidades, é preciso insistir na demarcação das terras indígenas. Não se
trata apenas de reparar as graves
omissões e violências de cinco séculos,
mas de entender que o desespero, por
falta de horizonte e sobrevivência, está
eliminando pelo suicídio os jovens índios.
Solicitemos ao Ministério da Justiça
uma rápida decisão sobre casos antigos, como das populações guaranis,
em Mato Grosso do Sul, cuja juventude vai desistindo de viver.
Ao mesmo tempo, é indispensável
concentrar esforços para atender situações mais aflitivas. Não podemos
adiar a rápida atuação para o assentamento dos sem-terra, reorganização
do sistema carcerário, a implantação
de métodos humanitários na reeducação dos jovens que cometem atos anti-sociais, o atendimento digno, pelo
SUS, aos doentes e acidentados.
O "Grito" aconteceu. Ninguém pode
fugir a essa luta pela vida. Não basta
ouvir nem reforçar o clamor dos excluídos. Temos é que fazer o que está
ao nosso alcance. É isso o que Deus espera de todos nós.
D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.
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