São Paulo, quarta-feira, 11 de outubro de 2000

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MAIS POBRES

Não é propriamente novidade que tenha aumentado, em 1999, o contingente de pessoas consideradas pobres no Brasil. Cálculos da pesquisadora Sônia Rocha, do Ipea, instituto de pesquisas do governo federal, estimam que, no ano passado, eram 54,1 milhões os brasileiros cuja renda não era bastante para dar conta de despesas básicas com alimentação, vestuário, saúde e educação. Se em 98 a pobreza atingia 33,4% da população, esse índice subiu para 34,9% no ano seguinte.
Como foi um período de crise, cujo estopim foi a falência da âncora cambial, era de esperar que 99 apresentasse resultados piores que os de 98 no que diz respeito à renda da fatia da população mais pobre. Menos ruim que, de acordo com os cálculos da pesquisadora, de 98 para 99 tenha havido discreto alívio na proporção de indigentes na população brasileira. Indigentes são os que não possuem renda suficiente nem mesmo para para necessidades alimentares.
Mais interessante que ater-se às oscilações anuais desses índices que vêm ganhando ressonância na mídia, é entender o padrão de seu comportamento num período mais longo. O plano de estabilização econômica implantado em 94, tendo obtido sucesso em debelar a inflação, foi o grande responsável por baixar os índices de pobreza, que superavam o patamar dos 40%, para a faixa em que se encontram até hoje.
Ou seja, sem uma ação inovadora, desta feita no campo das políticas sociais, é provável que o comportamento dos índices de pobreza apresente um ritmo de diminuição muito aquém do desejado, só perceptível em longuíssimo prazo, para um país tão iníquo como o Brasil.
Elaborar programas que acertem mais no foco da distribuição da renda é uma tarefa das mais complicadas, pois toca necessariamente nos tradicionais meios por onde escoa o gasto público no Brasil. Infelizmente, a timidez do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso nesse campo continua notória.


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