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VINICIUS TORRES FREIRE
A matemática difícil de Marta
SÃO PAULO - Foi notável a coerência
entre o que o eleitor de São Paulo disse nas pesquisas de pouco antes do
primeiro turno e na publicada ontem
por esta Folha. As intenções de voto
em José Serra (PSDB) e Marta Suplicy (PT) reveladas no Datafolha de
ontem são praticamente idênticas às
opções declaradas antes do 3 de outubro. No que o eleitor mudou de opinião, mudança marginal, a situação
piorou para a prefeita.
Antes do primeiro turno, 68% do
eleitorado de Paulo Maluf (PP) dizia
que não votaria em Marta de modo
algum. Agora são 73%. No caso de
Serra, a rejeição dos malufistas caiu
de 25% para 15%. É verdade que a
rejeição de Serra entre os adeptos de
Luiza Erundina (PSB) subiu de 20%
para 36%, tendo ficado estável para
Marta. Mas Maluf teve o triplo dos
votos de Erundina.
A acreditar no que o eleitorado diz,
sobram poucos votos para Marta
conquistar: dos cerca de 20 pontos
percentuais do total de votos que não
foram nem para a prefeita nem para
o tucano, algo como 12 pontos são de
votos que não iriam para a petista de
jeito nenhum. Sobram oito. Somados
aos cerca de 36 da prefeita no primeiro turno, ela chega a 44%. Perde.
Serristas podem virar casaca? Pode
ser. Mas quase triplicou a rejeição da
prefeita entre os serristas. De resto, do
primeiro para o segundo turno, Serra
cresceu muito mais -o triplo- do
que Marta entre os eleitores mais pobres, antes o forte da prefeita.
O eleitorado já conhece fracos e fortes do governo Marta, uma prefeita
bem razoável, talvez a melhor em 15
ou 20 anos, apesar das finanças ainda precárias e dos escândalos indomados da contratação do serviço de
limpeza pública.
Mas, para vencer, Marta agora depende do malufismo mais ideológico
(ou neurológico). Tem de convencer o
eleitorado dos nanicos (mais da metade ora contra ela). Não é impossível, pois eleição é questão de corações
e mentes. Mas o bom senso diz que os
petistas vão ter de achar um cadáver
muito feio debaixo da cama de Serra
para vencer.
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