São Paulo, segunda-feira, 11 de outubro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FERNANDO RODRIGUES

O anticapitalismo de Lula

BRASÍLIA - Suponha o leitor que existam dois vendedores de cachorro-quente no mesmo bairro. Um deles é desleixado. Seu carrinho é ensebado e a água onde bóiam as salsichas é o ambiente ideal para a cultura de salmonelas. Ainda assim, fatura uns R$ 1.500 por mês.
O outro vendedor de sanduíches que freqüenta a mesma freguesia é mais esforçado. Acorda cedinho, lava laboriosamente o seu carrinho, troca a água das salsichas, busca pão fresco e passou a oferecer também outros itens, como doces, cartões telefônicos e até jogos prontos da Mega-sena. Tem mais clientes e acaba de faturar, no mês passado, R$ 3.100.
Ambos os vendedores de cachorro-quente não pagam impostos. Tocam a vida sem interferência do governo.
Qual dos dois personagens será premiado no governo Lula? O sujinho. Isso mesmo. O mais incapaz e menos esforçado, o preguiçoso, será socorrido pelo Palácio do Planalto.
Se for aprovado o projeto de lei que os sábios do PT fizeram Lula assinar e enviar ao Congresso, os negócios com faturamento de até R$ 3.000 terão uma brutal redução de impostos. Também ganharão de prêmio a regularização de suas situações -passam a ser pessoas jurídicas em troca de apenas 1,5% de imposto sobre o faturamento total. Quem fatura R$ 3.000,01 ficará fora da faixa para receber o benefício.
Reduzir imposto assim é desestimular a meritocracia. Os incapazes vencem. Os competitivos, danam-se.
O microcomerciante esforçado que passar da barreira de R$ 3.000 de faturamento será punido. O abúlico e desleixado será premiado pela sua inépcia e incapacidade de aumentar a renda de seu trabalho.
Está na cara que, aprovado o projeto, haverá empresas que faturam R$ 30.000 se dividindo em dez para elidir o pagamento de taxas.
Sofisticação para fazer uma reforma tributária decente o governo não tem. Quando faz, erra. Em resumo: toda vez que o governo Lula não tem uma idéia, o Brasil melhora.

Texto Anterior: São Paulo - Vinicius Torres Freire: A matemática difícil de Marta
Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Ossos e sangue
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.