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FERNANDO RODRIGUES
O anticapitalismo de Lula
BRASÍLIA - Suponha o leitor que existam dois vendedores de cachorro-quente no mesmo bairro. Um deles é desleixado. Seu carrinho é ensebado
e a água onde bóiam as salsichas é o
ambiente ideal para a cultura de salmonelas. Ainda assim, fatura uns R$
1.500 por mês.
O outro vendedor de sanduíches
que freqüenta a mesma freguesia é
mais esforçado. Acorda cedinho, lava
laboriosamente o seu carrinho, troca
a água das salsichas, busca pão fresco
e passou a oferecer também outros
itens, como doces, cartões telefônicos
e até jogos prontos da Mega-sena.
Tem mais clientes e acaba de faturar,
no mês passado, R$ 3.100.
Ambos os vendedores de cachorro-quente não pagam impostos. Tocam
a vida sem interferência do governo.
Qual dos dois personagens será premiado no governo Lula? O sujinho.
Isso mesmo. O mais incapaz e menos
esforçado, o preguiçoso, será socorrido pelo Palácio do Planalto.
Se for aprovado o projeto de lei que
os sábios do PT fizeram Lula assinar
e enviar ao Congresso, os negócios
com faturamento de até R$ 3.000 terão uma brutal redução de impostos.
Também ganharão de prêmio a regularização de suas situações -passam a ser pessoas jurídicas em troca
de apenas 1,5% de imposto sobre o faturamento total. Quem fatura R$
3.000,01 ficará fora da faixa para receber o benefício.
Reduzir imposto assim é desestimular a meritocracia. Os incapazes vencem. Os competitivos, danam-se.
O microcomerciante esforçado que
passar da barreira de R$ 3.000 de faturamento será punido. O abúlico e
desleixado será premiado pela sua
inépcia e incapacidade de aumentar
a renda de seu trabalho.
Está na cara que, aprovado o projeto, haverá empresas que faturam R$
30.000 se dividindo em dez para elidir o pagamento de taxas.
Sofisticação para fazer uma reforma tributária decente o governo não
tem. Quando faz, erra. Em resumo:
toda vez que o governo Lula não tem
uma idéia, o Brasil melhora.
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