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A LUTA PELA RENDA
Há muitas formas de ver e analisar a
inflação. Mas nem todas propiciam o
combate adequado a esse mal.
Há uma definição simples de inflação: é o aumento contínuo dos preços, refletido em índices, sem maiores especulações políticas.
Outra definição, mais abstrata, associa a inflação a uma luta de todos
contra todos pela apropriação de renda. Dessa ótica, o índice de inflação
revela apenas a superfície do problema. Para alcançar sua raiz, é preciso
entender como grupos sociais, setores econômicos, empresas e instituições fazem da inflação uma arma para vencer o conflito distributivo.
Um exemplo bastante atual esclarece uma das artimanhas usadas nessa
luta. Algumas instituições financeiras, por exemplo, apostam na alta de
juros. Acreditam que o governo, ao
menor sinal de pressão inflacionária,
deveria elevar as taxas de juros.
Se isso ocorre, ganham certos bancos e seus clientes, investidores em títulos do governo. Perde o resto da sociedade, que não apostou -ou não
tem como apostar- na alta de juros.
Perdem aqueles cujo emprego depende da recuperação das vendas e
dos investimentos, que ocorre se
caem os juros.
Também perdem aqueles que dependem de serviços públicos que sofrerão em qualidade e quantidade.
Afinal, para pagar mais juros o governo é obrigado a cortar despesas não-financeiras e em áreas sociais.
É verdade que as taxas de juros,
quando a inflação sobe de modo sistemático e irreversível, precisam subir também. Caso contrário, os credores do governo buscam alternativas para seus recursos.
É portanto crucial identificar, nos
índices de inflação, se há uma alta
momentânea, mas reversível ou se,
de fato, há uma pressão permanente.
Para facilitar a distinção, vários países explicitam, nos índices, o chamado "núcleo", esclarecendo quais são
as pressões temporárias e, assim, defendendo toda a sociedade de pressões especulativas pela alta de juros.
O Brasil, apesar da longa experiência inflacionária, não deu esse passo.
Mas, com inflação baixa e democracia, é urgente um sistema de expurgo
da inflação, desde que sejam claros e
públicos os critérios de adequação
dos índices de medida. Tal procedimento pode, de resto, ter efeitos benéficos para a distribuição de renda.
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