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ILUSÕES DA GUERRA FISCAL
Num lance que sugere ousadia,
mas de duvidosa racionalidade técnica, o governador de São Paulo, Mário
Covas, anunciou que vai reduzir as
alíquotas do ICMS de alguns produtos da indústria alimentícia.
Para um governante que passou
boa parte do seu primeiro mandato
condenando a manipulação de alíquotas de ICMS em outros Estados
com o objetivo de atrair investimentos, a justificativa apresentada por
Covas não mostra coerência.
Segundo Covas, a medida tem por
objetivo evitar que indústrias do setor
deixem São Paulo para se instalar em
outros Estados que também dão incentivos fiscais às empresas.
É uma rendição a práticas cujo resultado é não só discutível, mas insustentável no médio e longo prazo.
O governo paulista, por enquanto,
não divulgou uma informação crucial: quais serão os alimentos cuja alíquota poderá ser reduzida dos atuais
18% para 12%.
Seria aliás oportuno que houvesse
reduções de impostos que, como os
que incidem sobre alimentos, estão
entre os mais regressivos. Mas, como
está, a intenção do governador, além
da incoerência e da falta de justificativa técnica, abre a suspeita de que o
governo possa estar apenas alimentando um leilão perigoso.
Pior. Ao ser indagado se a decisão
não levaria seu governo a cair na vala
comum dos que se renderam à guerra fiscal, mesmo sem admiti-lo abertamente, Covas afirmou que está
"pensando seriamente em aderir".
Nunca é demais repetir que as decisões de localização industrial cada
vez mais se devem a fatores como
qualidade da infra-estrutura urbana e
de transportes, dimensão do mercado e custo da mão-de-obra.
No setor alimentício, na agroindústria, pesam ainda fatores como a logística e a qualidade das cadeias de
fornecedores e de distribuição.
Trata-se de decisões que dependem
também da previsibilidade das ações
do governo, em especial de suas políticas fiscais e industriais. Mas o governo paulista parece de resto contribuir para o aumento da incerteza no
que diz respeito a essas políticas.
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