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Armas e barões
CARLOS HEITOR CONY
Rio de Janeiro - No tempo em que
curtia filmes de mocinho e bandido,
achava natural que os revólveres de
uns e de outros sempre tivessem munição. O pai zombava desses filmes justamente por isso, a partir da inesgotável capacidade de manter tiroteios em
que cada arma disparava 500, 600 tiros sem interrupção.
Para mim, o detalhe pouco importava. Quando enjoei desse tipo de filme,
desdenhei tudo o que havia neles, os
cavalos, as carroças, os índios. Mudei
de canal.
Nunca fui chegado às armas, de forma que a munição nunca me preocupou. Contudo estou há cinco, seis anos
às voltas com os notebooks, andando
com eles de lá para cá. Meu problema
agora é com as baterias, que ainda insisto de chamar de pilhas.
Por necessidade profissional, administro três deles, um Toshiba cinza,
um IBM preto e um Compaq na tradicional cor de burro quando foge. São
valentes, meus notebooks, rebaixei-os
a simples máquinas de escrever, aturam minhas barbaridades gramaticais, ortográficas, políticas e sentimentais sem estrilar.
Mas as baterias são minhas bestas-feras preferenciais. Vejo colegas durante horas enfrentarem a telinha
prateada sem necessidade de recarregá-las. Em filmes, em programas de
TV, vejo atores e âncoras passarem
uma eternidade com o aparelho funcionando por conta de baterias que
lembram os revólveres dos mocinhos:
nunca dão prego.
Evidente que as culpadas não devem
ser as baterias. A culpa deve ser minha, não devo saber usá-las.
Das armas e das baterias, passo para
os barões assinalados. Não entendo
como nunca acabam esses cidadãos
que vão para o governo, mudam de
nome e lugar e continuam os mesmos.
No meu caso, quando a bateria pifa,
jogo fora e compro outra.
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