São Paulo, Quinta-feira, 11 de Novembro de 1999
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Armas e barões

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - No tempo em que curtia filmes de mocinho e bandido, achava natural que os revólveres de uns e de outros sempre tivessem munição. O pai zombava desses filmes justamente por isso, a partir da inesgotável capacidade de manter tiroteios em que cada arma disparava 500, 600 tiros sem interrupção.
Para mim, o detalhe pouco importava. Quando enjoei desse tipo de filme, desdenhei tudo o que havia neles, os cavalos, as carroças, os índios. Mudei de canal.
Nunca fui chegado às armas, de forma que a munição nunca me preocupou. Contudo estou há cinco, seis anos às voltas com os notebooks, andando com eles de lá para cá. Meu problema agora é com as baterias, que ainda insisto de chamar de pilhas.
Por necessidade profissional, administro três deles, um Toshiba cinza, um IBM preto e um Compaq na tradicional cor de burro quando foge. São valentes, meus notebooks, rebaixei-os a simples máquinas de escrever, aturam minhas barbaridades gramaticais, ortográficas, políticas e sentimentais sem estrilar.
Mas as baterias são minhas bestas-feras preferenciais. Vejo colegas durante horas enfrentarem a telinha prateada sem necessidade de recarregá-las. Em filmes, em programas de TV, vejo atores e âncoras passarem uma eternidade com o aparelho funcionando por conta de baterias que lembram os revólveres dos mocinhos: nunca dão prego.
Evidente que as culpadas não devem ser as baterias. A culpa deve ser minha, não devo saber usá-las.
Das armas e das baterias, passo para os barões assinalados. Não entendo como nunca acabam esses cidadãos que vão para o governo, mudam de nome e lugar e continuam os mesmos. No meu caso, quando a bateria pifa, jogo fora e compro outra.


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