São Paulo, Quinta-feira, 11 de Novembro de 1999
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Longe do paternalismo e do autoritarismo


O novo perfil que surge é o das organizações de prestação de serviços


JOSÉ LUIS MENDES DE OLIVEIRA LIMA

Durante muito tempo assistimos a um curioso vaivém político nos países da América Latina. Quando não se viam ditaduras impondo-se por meio da força, observava-se o triunfo de governos populistas que mantinham o poder à base de pão e circo. Portanto, quando não tínhamos um Estado autoritário, estávamos no colo do Estado paternalista.
Essa oscilação nas esferas de poder refletia-se nas entidades de classe. Até bem pouco tempo atrás, órgãos representativos de segmentos profissionais estavam entre dois pólos: seguir as regras de dirigentes autoritários ou entregar-se à prática pura e simples do paternalismo. Podemos dizer que, hoje, essa visão mudou.
A conjuntura econômica mundial inscreveu em nosso vocabulário uma nova palavra: globalização. A chamada economia globalizada proporciona a transferência diária de grandes fluxos de capital privado entre os mais diversos e distantes mercados. Se, por um lado, há quem defenda a suposta "democracia" surgida dessa nova realidade, por outro o que se constata é o recrudescimento das diferenças entre os países. Isso contribui para a consolidação da dependência econômica, na medida em que os interesses dos grandes grupos privados transnacionais acabam se sobrepondo aos de muitos países, notadamente os subdesenvolvidos. Como consequência, percebe-se a deterioração de atividades tipicamente estatais, como educação, saúde e previdência. O espaço vazio que daí resulta acaba sendo ocupado pela sociedade civil. É o terceiro setor, onde atuam, além das ONGs, diversas entidades sociais.
E, no âmbito das próprias entidades sociais, não há mais espaço para a ditadura ou para o paternalismo. O novo perfil que surge é o das organizações de prestação de serviços, em substituição aos modelos das associações simplesmente reivindicativas ou assistencialistas. Como exemplos, podemos citar os sindicatos dos metalúrgicos e dos bancários e a OAB, dos advogados. À medida que o Estado busca eximir-se de algumas de suas funções básicas, cresce a importância da atuação das entidades sociais. E essa atuação se estabelece em bases sérias, calcadas em ações de caráter previdenciário, que reduzem o impacto das crises econômicas e do aumento da concentração de renda sem, no entanto, incutir no associado a idéia de que ele precisa de "amparo".
Em situações extremas, é necessário amparar, sim. Mas o trabalho diário que as organizações modernas desenvolvem visa ao fortalecimento da atitude responsável, solidária e cidadã. Responsável porque não põe em risco as conquistas já asseguradas em nome de projetos mirabolantes. Solidária porque contempla a ação conjunta para a solução de problemas. Cidadã porque contribui para o bem-estar coletivo. A prestação de serviços, o engajamento em projetos de desenvolvimento, a oferta de planos previdenciários e de saúde a preço de custo são exemplos de ações da sociedade civil organizada que têm rendido bons frutos.
Garantir respeito e qualidade de vida sem o comprometimento da postura ética é o que diferencia o homem correto dos demais. Os demais, diante da realidade que se apresenta, ainda escolhem a troca de favores como "modus operandi".


José Luis Mendes de Oliveira Lima, 33, advogado criminal, é presidente da Caixa de Assistência dos Advogados de São Paulo (Caasp) e professor-coordenador da Faculdade de Direito de Osasco (Unifieo).



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